3 razões para não investir todo o seu capital em ações [Parte I]

No mercado financeiro, é bastante comum encontrar pessoas que investem todo seu capital em ações, não aplicando a estratégia de alocação de ativos.

Geralmente, são investidores jovens que fazem suas compras baseadas na Análise Fundamentalista, concentrando seus investimentos em poucas ações, visando ter um maior retorno de longo prazo.

A outra minoria, prefere indexar seus investimentos à índices, utilizando Fundos de Índice, como o BOVA11, PIBB11 e SMAL11.

Particularmente, não sou favorável à esta estratégia, mesmo sendo jovem (22) e tendo um conhecimento razoável de Análise Fundamentalista e Valuation.

É por esta razão que irei listar ao longo deste série 3 motivos que todo investidor deveria levar em conta na hora de investir 100% em ações.

A intenção deste artigo é causar uma reflexão através de fatos. Não é meu objetivo fazê-lo mudar sua estratégia.

Somente você poderá decidir o que funciona e é melhor para seus investimentos. Entretanto, é sempre bom escutar opiniões contrárias, já que podem mostrar possíveis pontos fracos de nossas estratégias.


1º Motivo: Raros são os investidores que possuem a disciplina e a paciência necessária para esta estratégia.

A maioria que investe todo o seu capital em ações, ao invés de fazer corretamente o “buy and hold”, comprar e segurar, faz “buy and hope”, compra e reza para o mercado subir.

No mercado financeiro não existe nenhuma certeza.

Portanto, mesmo sabendo que no longo prazo as ações tendem a ter um desempenho melhor do que outros ativos por carregarem maior risco, isso não pode se justificar como uma certeza.

Como diria Karl Popper: “Basta apenas uma observação contrária para refutar uma teoria”.

Um exemplo real. Nos Estados Unidos, por exemplo, o retorno anual real das ações (com os dividendos reinvestidos) nos últimos 10 anos foi de -3,57%.

Você suportaria perder -3,57% todo ano em 10 anos?

Dados utilizados: Site dshort, até Julho/2010.

I. O longo prazo em 10 anos:

Veja que, na média, o retorno das ações em 10 anos é positivo, em torno de 6% ao ano. Entretanto, existem períodos em que o retorno anual real é de quase -6%.

E foi exatamente o que ocorreu em março de 2009, ao olhar os 10 anos para trás.

Citando Nicholas Taleb: “Não atravesse um rio se ele tiver, na média, 1,50m”.

Ao invés apenas de se sustentar no fato de que no longo prazo o retorno das açoes tende a ser maior do que outros investimentos, procure fazer simulações de risco.

Analise períodos passados em que os retornos foram muito ruins e veja se suportaria tamanha perda.

Talvez você agora esteja argumentando que 10 anos não é longo prazo nem aqui nem na China.

Ok. Então que tal analisar 20 e 30 anos?


II. O longo prazo em 20 anos

A fisionomia dos retornos já melhora positivamente.

Com a diminuição do ruído, podemos observar maior regularidade entre os retornos ao longo de 20 anos.

Entretanto, é preciso destacar 3 períodos em que o retorno foi muito próximo de 0%. Em 1922, 1949 e 1983.

Analisando este “worst case scenario“, você ainda estaria confiante para investir 100% em ações?


III. O longo prazo em 30 anos

Agora já podemos dizer que em 30 anos temos um retorno anual esperado entre 2% e 10%.

A volatilidade, ao ser analisada em prazos maiores, diminui e favorece o investidor paciente.

Entretanto, se compararmos estes períodos com aplicações na Renda-Fixa, certamente existiriam períodos em que o mercado de ações ficaria bem atrás da Renda-Fixa.

Um ótimo exemplo, que será detalhado no segmento desta série, foi o período de estagflação dos EUA, em que as taxas de juros subiram acima de 10%.

Simulações com o SP500. Quer saber o quanto a bolsa americana rendeu ao ano desde 1871 para qualquer período que você escolher?

Faça simulações através desta calculadora e tenha como resultado o retorno anual nominal e real, além de índices como inflação, P/E (Price / Earnings) – similar ao P/L aqui no Brasil, Dividend Yield.

Botando mais lenha na fogueira. Veja este pequeno post do recomendado blog Viver de Renda, que mostra o retorno anualizado de diversas bolsas ao redor do mundo.

O Brasil está em 1º lugar com retorno anual de 20%. De acordo com a teoria da regressão à média, não se deve esperar muito da bolsa brasileira nos próximos 10 anos.

Resumindo: A grande maioria dos investidores não tem a paciência e disciplina necessária para deter um investimento de 100% em ações de longo prazo. Entenda por longo prazo 20+ anos.

Muitos dos investidores que sustentam essa teoria nunca passaram por um Bear Market de verdade e, portanto, não sabem como as emoções podem atrapalhar seus investimentos.

Falar é fácil, presenciar seu dinheiro poupado a vida inteira através de muito esforço evaporando 60% em 5 meses (vide crise em 2008) é outra coisa.


Conclusão

Com esta série, pretendo demonstrar como alocar 100% em Ações pode ser perigoso, mesmo considerando um prazo de 10 anos.

Pouquíssimas pessoas possuem a paciência e a disciplina necessária para se manterem firmes neste tipo de estratégia.

Bons exemplos são meus amigos Viver de Renda, Renda Passiva, Vida Boa Investimentos e Jônatas.

Embora não concorde com este tipo de estratégia e esteja sempre pregando a diversificação através de uma eficiente alocação de ativos,  tenho consciência de que o caminho para a riqueza não é de mão única.

Portanto, caso queiram adicionar comentários à discussão sintam-se à vontade para comentar.

Leia a parte II das 3 razões para não investir todo o seu capital em ações.

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Sobre o autor

Henrique é especialista em alocação de ativos, eleito um dos 5 melhores educadores financeiros do Brasil em 2012/2013. Continue Lendo aqui!

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