12 Tipos de Riscos em Investimentos que Você Precisa Conhecer (Parte 4: Ações, BDRs e ADRs)

Riscos Renda Variável

(Artigo escrito por Igor Ramalho)

Bem-vindos de volta!

Desta vez, trazemos um assunto que, acredito eu, muitos estejam esperando: riscos gerais de Renda Variável (RV) e, especialmente, do mercado de ações.

Caso queira ler ou reler os posts anteriores, aproveite os links abaixo:

Não deixe de acompanhar e comentar a série de textos sobre riscos, assim sabemos o que estão curtindo e aprendendo sobre o assunto.

Boa leitura!

Introdução

Os ativos de RV têm uma marcante característica que os diferenciam dos ativos de Renda Fixa (RF): é impossível determinar sua rentabilidade (ou a forma de cálculo desta) no exato momento da aplicação.

Dentro dessa classe de ativos, há inúmeras opções de investimento. Alguns exemplos são:

  • Ações, BDRs e ADRs
  • ETFs
  • FIIs
  • Contratos futuros
  • Opções (sobre ações, futuros ou câmbio)

Ativos de RV são comumente adotados por investidores como forma de buscar rentabilidades superiores aos ativos de RF, usualmente prefixados ou indexados à taxa Selic ou ao IPCA.

Mas, por que buscar maior risco?

A aplicação em ativos de RF passa uma maior sensação de “segurança”, quando comparada com a aplicação em ativos de RV, principalmente pela reduzida volatilidade nos preços dos ativos. Apesar disso, existem cenários em que a inflação no período do investimento é maior do que a própria rentabilidade dos títulos de RF.

Com isso, o valor investido na RF poderá sofrer perdas em seu poder aquisitivo, ainda que não ocorra uma perda nominal do capital. A partir dessa premissa, os investidores acabam buscando diversificar suas carteiras com ativos que apresentem maior rentabilidade, geralmente ativos de RV.

Outra importante motivação é a possibilidade de se tornar sócio de importantes empresas brasileiras. Com uma maior experiência no mercado de ações em geral e conhecimentos sobre empresas específicas, é possível investir em companhias que se acredite possuir boa capacidade de geração de lucro e projetos promissores de longo prazo.

Riscos do Mercado de Ações

Riscos Ações

Ações representam, conceitualmente, a menor parcela do capital de uma empresa. As ações que são negociadas no mercado secundário – aquele que conhecemos e temos acesso por meio da mesa de operações ou pelo home broker da corretora –, são resultantes da divisão de parte do capital da empresa em cotas que são ofertadas aos investidores por meio de ofertas públicas.

No Brasil, a BM&FBovespa é a empresa que organiza os mercados de títulos, valores mobiliários e derivativos.

É um investimento que apresenta maior diversidade de fontes de risco, sendo assim considerado de maior complexidade. Apesar disso, o mercado de ações pode gerar retornos bem superiores para sua carteira de investimento, quando se contempla uma boa dose de estudo e análise e, por que não, uma pitada de sorte.

Os riscos que incidem sobre as ações são enumerados nas seções a seguir.

Riscos de mercado

O risco de mercado é, basicamente, o risco de alguma ação em sua carteira perder valor, dada alguma alteração no mercado em que ela está presente. Em outras palavras, uma ação pode ter sua cotação reduzida, caso o mercado apresente uma queda.

Neste contexto, a abrangência de mercado, pode ser entendida tanto como o setor no qual a empresa está situada – energia, alimentos, petróleo, tecnologia, são alguns dos setores representados na BM&FBovespa –, como o mercado de ações (ou até mesmo o de RV) como um todo.

Aumentos súbitos nos preços de matéria-prima, o surgimento impactante de um concorrente no mercado, a mudança de um regime governamental, desastres naturais, crises econômicas globais. Todos estes são exemplos de motivos que usualmente alteram a visão do mercado e dos investidores e podem trazer perdas financeiras.

Nesse caso, uma boa gestão do risco envolve a geração e análise de algumas métricas de risco sobre os ativos em relação ao mercado como um todo, de forma a medir a exposição de uma carteira ao risco.

Uma das principais ferramentas que o investidor possui para entender e se proteger melhor deste risco é o Beta do ativo. Conforme já definido pelo Henrique aqui, o Beta diferencia ativos mais agressivos dos mais conservadores, medindo a sensibilidade destes em relação ao comportamento de uma carteira que represente o mercado.

É importante se atentar ao fato de que o Beta não é a única medida de risco existente e nem é capaz de prever o futuro, pois, assim como todas as medidas existentes, se baseia em dados históricos.

Riscos da empresa

Além do risco de mercado no qual a empresa está situada, existem os riscos inerentes à própria empresa. De forma direta, estes riscos dizem respeito à possibilidade de quebra da empresa, levando-a a decretar falência e, dependendo do motivo da quebra, levando o investidor a perdas financeiras parciais ou, até mesmo, totais.

Problemas e interrupções no processo de produção, a perda de pessoas-chave na companhia, a prescrição dos prazos para a construção de novas unidades operacionais, são alguns exemplos do que pode ocorrer neste quesito.

Este tipo de risco é, por muitas vezes, ligado ao que se denomina risco de análise da empresa. Caso a análise sobre uma determinada empresa seja feita de forma equivocada ou incompleta, pode haver grandes prejuízos, principalmente se o investidor não tiver diversificado suas aplicações financeiras.

Para os adeptos à análise fundamentalista, por exemplo, pode-se definir um valor intrínseco de um ativo levando em consideração alguma metodologia de Valuation que exacerba a expectativa de crescimento da empresa. Nesse caso, é possível que se compre um ativo com preço alto e com baixa possibilidade de alta.

Outro exemplo, agora mais voltado aos adeptos da análise técnica: é possível que se defina um stop loss muito baixo, dado a estratégia utilizada, podendo fazer com que os prejuízos sejam maiores do que o esperado.

Aliás, este é um risco que, por muitas vezes, afasta os investidores com menor capital e/ou iniciantes da bolsa, dado o medo de investir em empresas que apresentem resultados ruins. Principalmente se eles tiverem entrado em “furadas”, como foi o recente caso da OGX.

Outro motivo para insegurança é que o investimento em ações não conta com garantias do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

Ligados ao mercado em questão e aos objetivos estratégicos das empresas, devem ser considerados também os riscos do negócio. O negócio o qual a empresa trata pode se tornar obsoleto, superado pelos concorrentes ou mal administrado.

Para mitigar tal risco, não há outra solução além de buscar empresas administradas com competência, que ofereçam um bom produto ou serviço e que apresentem capacidade sustentável de gerar lucros. Como geralmente menciona Warren Buffet, ao escolher negócios relativamente simples, reduz-se o risco de deter uma ação de um negócio que não se compreende.

Um indicador interessante a observar é o segmento de listagem da ação na bolsa. Ele dita as regras de níveis de governança corporativa da empresa, em uma escala crescente de rigidez. As regras às quais as empresas se encaixam podem ser encontradas no site da BM&FBovespa, neste link.

Um dos critérios de listagem é o tag along da empresa, mecanismo que garante a porcentagem mínima para recebimento do valor de suas ações, caso a companhia sofra uma alteração de controle ou seja vendida.

Inicialmente, apenas as ações ordinárias (ON) possuem tag along de no mínimo, 80%. Mas este direito pode ser estendido para detentores de ações preferenciais (PN) e, no site da própria bolsa, é possível encontrar os valores de tag along de cada empresa.

Risco de liquidez

Em alguns casos, há a presença do risco de liquidez. Aqui, a falta de liquidez se resume à não capacidade de se desfazer de uma posição (comprada ou vendida), sem no mínimo se sujeitar a um preço muito baixo, que pode incorrer em maiores prejuízos.

Isso ocorre frequentemente com ações de empresas pequenas, de 2ª e 3ª linha, que possuem uma maior dificuldade de venda que outras ações, dada a baixa demanda por estes ativos. A situação pode piorar, caso o mercado esteja em crise, pois os investidores estarão dispostos a pagar cada vez menos pelo ativo.

A principal forma de “escapar” deste risco é buscar ações de empresas que apresentem bom volume de negócios, histórico e atual, de preferência, maior que o total de ativos que se possui em posição na carteira.

Riscos pelo governo

Não, nós não somos o banco Santander. Portanto, nós podemos, sim, afirmar que algumas atitudes do governo atual têm influenciado (na maioria das vezes, de forma negativa) o movimento de determinados papéis na bolsa.

Além das atitudes, a possibilidade de derrota da atual presidente tem agradado à maioria dos investidores, que, por vários dias, impulsionaram a alta de ações e índices de mercado após a divulgação de intenção de votos contrária à reeleição.

As informações mencionadas neste último parágrafo estão relacionadas às últimas notícias do mercado, onde o banco Santander, a consultoria Empiricus e outras fontes de divulgação de relatórios de investimentos sofreram uma espécie de retaliação por parte do governo.

Uma boa recapitulação sobre o ocorrido pode ser lida nos seguintes artigos do jornal O Globo:

À parte de interpretações políticas, algumas decisões governamentais podem afetar os preços de alguns ativos, sendo a maioria destes ligados ao governo diretamente (empresas estatais) ou indiretamente (que possuem concessões fornecidas pelo governo). Este risco, por vezes, também é chamado de risco regulatório.

Um exemplo é o de empresas do setor de fornecimento de energia elétrica, em 2012, quando o governo propôs as renovações antecipadas de concessão para empresas do setor. Isso fez com que a conta ficasse insustentável para as empresas de energia, que sentiram no mercado as incertezas dos investidores já em 2012 e em 2013.

Outro caso é o da Petrobrás. Os investidores que acompanham o mercado provavelmente já repararam que a capacidade da empresa de gerar bons resultados financeiros, vem sendo impactada negativamente, ano após ano, dada o crescente endividamento da empresa. Isso afetou, inclusive, o plano da Petrobras de se tornar autossuficiente na produção de petróleo.

Tais fatos são consequência, em sua maior parte, da insistência do governo em congelar o preço do combustível – medida tomada para conter a inflação – utilizando o próprio caixa da empresa para tal.

Caso o investidor queira reduzir tais tipos de risco, a opção é procurar companhias que sofram menor influência do governo sobre seus negócios.

Outras formas de risco

Por fim, vamos citar aqui rapidamente dois tipos de risco que podem incidir sobre ações na bolsa de valores.

O primeiro é o risco monetário. Mudanças cambiais podem afetar o valor de mercado de muitos investimentos, inclusive o de ações. Exemplificando, caso o câmbio de dólar (BRL/USD) suba, as empresas que dependem de importações de insumos são prejudicadas. Em contrapartida, aquelas que têm suas receitas provenientes de exportações (em dólar) se beneficiam de tal fato.

O segundo diz respeito ao risco da corretora, diretamente ligado ao risco de TI, citado no 1º artigo da série. Certas vezes, tal risco é denominado risco operacional.

O risco de TI se caracteriza quando o investidor identifica uma oportunidade (de compra ou venda), mas, na hora de enviar a ordem pelo home broker, ocorre um problema na sua conexão de internet. O risco da corretora, por sua vez, está ligado à possibilidade de ocorrência de falha em servidores da corretora, ou ainda a um defeito na comunicação desta com o sistema da bolsa.

Aqui vale uma observação: assim como todos os ativos de RF, os ativos de RV possuem os mesmos riscos inerentes à aplicação, como o risco da inflação – caso o retorno do investimento não consiga acompanhar ou superar a inflação, causando perda do poder aquisitivo com o tempo – e o risco dos juros – que podem acarretar em riscos de mercado (reduzindo a atratividade do mercado de ações como um todo) e riscos da empresa (quando juros maiores podem encarecer possíveis empréstimos).

De forma geral, deve-se sempre buscar opções de investimento em que a lucratividade seja superior à inflação. Ações de empresas sólidas, que pagam dividendos crescentes, podem ser boas alternativas.

BDRs e ADRs

Riscos BDRs e ADRs

Os ativos de BDR (Brazilian Depositary Receipt) são certificados de depósito, emitidos e negociados no Brasil, com lastro em valores mobiliários de emissão de companhias estrangeiras. De uma forma mais simples, são valores mobiliários emitidos no Brasil que representam seus respectivos emitidos por companhias abertas com sede no exterior.

De acordo com site da bolsa, “os BDRs oferecem ao investidor a possibilidade de investir em empresas estrangeiras de maneira simples e ágil, da mesma forma como hoje já faz para investir nas empresas brasileiras. Não há a necessidade de fazer operações de câmbio, transferir recursos para o exterior ou mesmo manter contas de custódia no exterior”.

Uma listagem com as BDRs que são negociadas na BM&FBovespa pode ser encontrada neste link, do site da própria bolsa. Nesta listagem estão presentes algumas empresas tradicionais americanas, como McDonalds e Coca-cola, além de outras menos tradicionais (brasileiras, inclusive), como a Wilson Sons.

É importante ficar atento ao nível da BDR. Não há restrições quanto ao tipo de investidor que pode negociar BDRs Patrocinados Nível II e Nível III, pois a aplicação é considerada investimento no Brasil. Já para BDRs Nível I (onde se encaixam as empresas mais “tradicionais”), somente podem adquirí-los os investidores institucionais e investidores qualificados, pois a aplicação é considerada investimento no exterior.

Por sua vez, os ADRs (American Depositary Receipt) são certificados de ações emitidos por bancos americanos com lastro em papéis de empresas brasileiras. Basicamente, é a negociação de empresas brasileiras em outros mercados (até agora, só nos EUA), de forma a buscar um mercado mais amplo e líquido.

Uma lista das ADRs que são negociadas em New York pode ser vista neste link, do site do Valor Econômico. Na lista estão presentes empresas como Ambev, Itaú Unibanco, Petrobras e Vale, dentre muitas outras.

Ambos ativos possuem as mesmas características de riscos de ações justamente por se comportarem como tal, salvo alguns novos e importantes detalhes, descritos a seguir.

Um dos riscos do investimento em BDRs  é o risco cambial. Embora todas as transações da operação sejam realizadas em reais, a cotação das ações é referenciada em dólares. Logo, a conversão dos eventos (compra, venda e recebimento de rendimentos) é feita com base no câmbio do dia da operação, conforme explicado no site Valor Econômico.

Para os que têm acesso para investir diretamente no mercado americano (possuindo conta em alguma corretora com abertura neste mercado), a possibilidade de investimento em ADRs leva à consideração de alguns aspectos de risco.

Um deles está relacionado ao próprio mercado americano, que refletirá resultados, indicadores e expectativas da economia local, além da própria dinâmica dos investidores de lá. Isso modifica, em partes, a forma de análise destes ativos.

Incidem também o risco cambial, da mesma forma que os BDRs, dado que o ativo estará cotado em dólares. Deve-se considerar ainda os mesmos riscos das ações das respectivas empresas brasileiras, negociadas na BM&FBovespa.

Conclusão

Riscos RV

Apesar de toda essa gama de riscos que o mercado de ações oferece, ainda é uma das formas mais realistas e possíveis para que nós, investidores em ascensão, possamos vislumbrar uma possível independência financeira num futuro próximo.

Não importa a escola de análise que você queira adotar – fundamentalista, técnica, estatística ou quantitativa –, desde que você a utilize corretamente e que ela gere bons lucros para você.

É interessante, neste caso, aliar a forma de análise com a metodologia de alocação de ativos e de balanceamento de carteiras, assuntos amplamente discutidos aqui no HC Investimentos.

Creio que o mais importante seja a sua predisposição a estudar mais, analisar mais, de forma a sempre buscar melhorar sua performance pessoal com o investimento em ações e o mercado financeiro em geral.

Apesar de alguns terem perdido dinheiro na bolsa, vários outros já nos deram excelentes exemplos de sucesso neste mercado, como Warren Buffet, George Soros, Luiz Barsi e Lirio Parisotto.

E você, está pronto?

Se gostou, compartilhe com os amigos. Se tiver dúvidas ou sugestões, comente à vontade. Obrigado e até a próxima!

(crédito das imagens: shutterstock.com)

Sobre o autor do texto

igor-ramalhoIgor Ramalho é mestre em Inteligência Computacional pela UFRJ, analista de sistemas em um banco internacional de investimentos e fundador do blog Vitamina $. Estudioso de finanças pessoais, começou a redigir artigos para o HC Investimentos em 2013. Leia mais aqui.

Sobre o autor

Henrique é especialista em alocação de ativos, eleito um dos 5 melhores educadores financeiros do Brasil em 2012/2013. Continue Lendo aqui!

eBook-alocacao-ativos