Na parte I tiramos importantes conclusões a respeito do retorno, risco e correlação entre os ativos e a importância do rebalanceamento do portfólio.
Concluimos que devemos analisar todos os fatores em conjunto, nunca olhando apenas para um fator isolado.
Vimos também que o ato de rebalancear a carteira, embora não queira dizer que aumentará o retorno, ele é um excelente meio de reduzir o risco do portfólio.
Acredito ser importante dizer que rebalancear a carteira é uma forma de se apoiar na teoria da regressão à média.
Ou seja, caso um ativo esteja tendo uma performance fantástica nos últimos anos ele provavelmente não irá apresentar a mesma proporção de ganhos no futuro, retornando para sua média histórica.
A teoria também implica no fato de que todos os ativos passam por momentos muito pessimistas (muito abaixo da média histórica) e muito otimistas (muito acima da média histórica), sendo necessário controlar o risco da carteira (através do rebalanceamento) sempre que um ativo tiver um grande desvio percentual (ex. 20%) em relação ao seu percentual original.
No artigo passado, o período analisado compreendeu-se entre julho de 1994 e setembro de 2009.
Agora, o foco estará no período de janeiro de 1999 até setembro de 2009. Vamos analisar como os dois portfólios se comportaram nesta novo período.
- Portfólio 1: 50% Selic / 50% Ibovespa
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A imagem acima nos mostra a evolução de $1 ao longo de todo o período. O portfólio é o mesmo nas três ocasiões.
A única diferença é o uso (ou não) do rebalanceamento da carteira. Novamente, podemos tirar a conlusão de que rebalancear a carteira (seja através do desvio de 20% ou de 10%) aumentou o retorno total do portfólio.
- Portfólio 2: 50% Dólar / 50% Ibovespa
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Da mesma forma que no período de 1994-2009, no período de 1999-2009 podemos ver claramente que não rebalancear o portfólio trouxe um risco bem maior (maior volatilidade) do que rebalancear o portfólio (neste caso o desvio de 20% foi superior ao de 10%).
Visando tirar uma melhor conclusão entre estes dois portfólios necessitamos avaliar os dados em conjunto e em uma tabela comparativa.
- Evolução de $1 do Portfólio 1 (50% Selic / 50% Ibovespa) e Portfólio 2 (50% Dólar / 50% Ibovespa)
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No gráfico acima podemos perceber que usei o desvio percentual de 20% para rebalancear os diferentes portfólios.
Neste período (1999-2009), embora o portfólio 1 (Selic + Ibovespa) tenha sido melhor do que o portfólio 2 (Dólar + Ibovespa), esta constatação não é tão obvia, pois tivemos um grande período em que o portfólio 2 performou melhor do que o 1.
Alguns fatos a se obervar:
(a) Neste período, a correlação negativa entre o Dólar e o Ibovespa se intensificou (enquanto era de -0,40 no período anterior (1994-2009), agora ela é de -0,65).
Este fator certamente ajudou o portfólio 2, embora ainda assim, a correlação nula (a correlação entre Selic e Ibovespa se manteve em zero) foi superior a correlação negativa.
(b) Não devemos apenas nos prender a correlação entre os ativos. Devemos também analisar o retorno e o risco destes.
Enquanto a Selic teve um retorno médio de 15,85% ao ano neste período, o Dólar teve um retorno médio anual de 8,33% no mesmo.
Mesma que a correlação negativa tenha se intensificado (de -0,40 para -0,65) e o retorno tenha aumentado (de 7,69% para 8,33%) o portfólio composto por Dólar e Ibovespa foi inferior ao portfólio composto por Selic e Ibovespa.
(c) O período inicial da análise (1999 até 2002) favorece bastante o dólar em relação à Selic. Só em janeiro de 1999, a valorização do Dólar foi de 73,97% devido a abertura das bandas cambiais.
Ainda há o período de Bear Market na bolsa entre 2000-20002, em que o dólar alcançou sua marca histórica de R$ 4,00 em 2002.
Após este período, o Dólar vem se enfraquecendo constantemente. Mesmo com a crise de 2008, o Dólar já voltou ao patamar anterior à crise.
Na tabela acima podemos ver melhor a diferença entre os portfólios sob diversas perspectivas.
Conclusões:
(a) Desta vez os dados condizem melhor com o fato de que rebalancear o portfólio ajuda bastante a reduzir o risco. Em todas as ocasiões o desvio-padrão anual foi menor rebalanceando do que não rebalanceando.
(b) A diferença entre os dois tipos de rebalanceamento novamente é pequena. Como já disse anteriormente, se fosse escolher entre um ou outro, certamente escolheria o desvio percentual de 20%, já que incorreria em menores custos (low turnover).
(c) Novamente, podemos ver na tabela o exemplo claro do efeito da volatilidade no retorno total do portfólio. No portfólio 2 (Dólar + Ibovespa) atentem para o retorno total, o retorno médio e o desvio padrão com o rebalanceamento de 20% e sem rebalanceamento.
Não rebalancear implicou em uma maior volatilidade (21,35% contra 18,38%) do que o rebalanceamento com 20%, fazendo com que o retorno médio (mesmo maior do que o retorno médio do rebalanceamento com 20%; 17,71% contra 17,33%) gerasse um retorno total menor que o outro caso (432,88% contra 445,98%).
(d) Acredito que a conclusão mais importante é a avaliação de risco entre os dois portfólios.
Surpreendentemente, o portfólio com uma correlação nula (Selic + Ibovespa) apresentou menor volatilidade do que o portfólio com correlaçao negativa (Dólar + Ibovespa), além de um maior retorno.
Avalie bem os três fatores (retorno, risco e correlação) em conjunto para ter uma melhor idéia do comportamento dos ativos. Nunca avalie apenas um item isolado.
Observação: Os dados acima não sugerem que uma alocação entre Selic e Ibovespa será superior à uma alocação com Dólar e Ibovespa (embora eu particularmente acredito que as chances são grandes).
Também não sugerem que devemos ou não alocar em dólar no nosso portfólio (este será um assunto para artigos futuros).
A composição do portfólio deve sempre refletir as necessidades do investidor. A gama de classes e ativos para se incluir em um portfólio vai muito além destes três analisados.
Pretendo abordar através de artigos as diversas classes e ativos que podem compor um portfólio além de suas vantagens e desvantagens.
Apenas por curiosidade, irei desenvolver a parte III deste artigo comparando estes mesmos portfólios. O período analisado será de janeiro de 2008 até setembro de 2009.
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