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Devido a variação diária do mercado, sua carteira de investimentos apresentará uma alocação diferente da alocação de ativos original. Suponha que sua carteira esteja investida inicialmente através de 50% lft com vencimento em 2017 e 50% bova11.
Neste caso, a lft 2017 representa os títulos públicos indexados à taxa Selic e o bova11 o Ibovespa.
Após 1 ano, a lft 2017 subiu 10% e bova11 caiu –10%. Portanto, a alocação de sua carteira agora é de 55% lft 2017 (50% × 1,10) e 45% bova11 (50% × – 1,10).
Rebalancear a carteira significa trazer a alocação atual (55%|45%) para a alocação original (50%| 50%). Logo, o investidor precisa vender 5% em lft 2017 para comprar 5% de bova11, de modo que a carteira retorne a alocação de 50% | 50%.
Como você pode notar, o termo rebalanceamento refere-se à ideia de uma balança. Quando um lado da balança fica mais pesado ou leve do que o outro, é preciso rebalanceá-la para equilibrar novamente os pesos.
Existem diversos benefícios ao praticar o rebalanceamento. São eles:
Vender na alta e comprar na baixa
A estratégia de rebalancear a carteira força o investidor a vender ativos que subiram para comprar ativos que caíram. Não é necessário utilizar nenhuma ferramenta para saber quando comprar ou vender um ativo. Basta acompanhar a evolução da alocação dos ativos da carteira e o investidor saberá quando vendê-los ou comprá-los.
Como esse é um processo automático, não há interferência da parte emocional do investidor. Os números mostrarão ao investidor quando e como rebalancear sua carteira. Essa atitude reforça a disciplina e paciência, duas virtudes fundamentais para o investidor inteligente.
Mantém a alocação da carteira em sintonia com o perfil de risco do investidor
Suponha que seu perfil como investidor seja conservador e que sua alocação inicial seja de 80% lft 2017 e 20% bova11. Entretanto, após 3 anos, sua carteira está investida da seguinte forma: 40% lft e 60% bova11.
Essa é uma alocação bem mais agressiva do que a anterior, contrariando o perfil conservador do investidor. Logo, no caso de uma crise, o investidor conservador poderá perder muito mais do que ele está disposto a aguentar, podendo, inclusive, abandonar sua estratégia de investimentos devido ao alto risco presenciado.
Ao praticar o rebalanceamento da carteira, vendendo 40% em bova11 para comprar 40% em lft, o investidor estará retornando ao seu perfil de risco original, caracterizando-se como um investidor conservador através da alocação 80% em lft e 20% em bova11.
Minimiza riscos no longo prazo
Ativos de maior risco na carteira geralmente apresentam maior retorno. Logo, expandindo o conceito anterior, ativos da classe “bolsa” tendem a obter um retorno acima da renda-fixa no longo prazo, fazendo com que a alocação nestes ativos atinja um patamar acima do original, tornando a carteira mais arriscada.
Ao rebalancear a carteira, vendendo parte do investimento em bolsa nas grandes altas, você estará reduzindo o risco de sua carteira no caso de uma nova crise.
Investidores que possuem o conhecimento da estratégia de rebalanceamento tinham uma ideia de que após o grau de investimento (investment grade) recebido pelo país em maio de 2008, era o momento de rebalancear sua carteira de investimentos, reduzindo a alocação em bolsa e aumentando em renda-fixa.
Quando a crise se iniciou um mês após esse evento, os investidores experientes já estavam muito mais protegidos do que os investidores iludidos pelo fato de que o Investment Grade traria uma alta excepcional para a Bolsa, o que de fato não ocorreu.
Diferentes métodos de rebalancear a carteira
Embora existam diversas técnicas para rebalancear uma carteira de investimentos, apenas duas se destacam e oferecem benefícios reais para o investidor pela sua simplicidade e eficácia.
Rebalanceamento pelo tempo (calendário)
Esse é o método para quem gosta de fazer reavaliações em sua carteira periodicamente. Escolhe-se um período para avaliação (por exemplo: 3 meses, 6 meses ou 1 ano) e de período em período, realiza-se uma análise sobre a alocação da carteira.
Vamos supor que um investidor tenha escolhido o período de 1 ano. Sua alocação padrão (inicial) é de 50% em lft e 50% em bova11. Após 1 ano, ele verifica sua carteira e nota que ela está com a seguinte alocação: 30% em lft e 70% em bova11.
Logo, ele realiza o rebalanceamento vendendo os excedentes de 20% em bova11 para comprar os 20% que faltam em lft e assim prossegue de ano em ano.
Vantagens do Método:
- Monitoramento simples e mais tempo fora do mercado
Esse é um método adequado para quem não gosta de ficar acompanhando muito o mercado. Afinal, olha-se a carteira apenas no período pré-definido, tendo mais tempo para aproveitar fora do mercado.
- “Casar” o período com sua estratégia
Suponha que você precise, de ano em ano, retirar uma parte do capital aplicado para gastos pessoais, como uma viagem, por exemplo.
Logo, ao rebalancear a carteira no período de 1 ano, você já aproveita para retirar uma parte do dinheiro aplicado, facilitando o equilíbrio da carteira, já que você irá retirar mais dinheiro dos ativos que obtiveram melhor resultado no período.
Desvantagens do método:
- Crise rápidas e curtas
Caso o investidor tenha optado por rebalancear sua carteira apenas de ano em ano, ele poderia ter problemas na crise de 2008. Em apenas 5 meses o Ibovespa chegou a cair –60%.
Logo, se ele esperasse mais 7 meses para mexer em sua carteira, perderia uma ótima oportunidade de vender ativos seguros, como títulos públicos, para comprar ativos de maior risco, como etfs de ações.
- Custos
Caso o investidor opte por rebalancear a carteira em um período curto como 1 mês ou 3 meses, ele poderá ter altos custos, já que rebalancear significa voltar a alocação original, vendendo os ativos que mais subiram e comprando os ativos que mais caíram, implicando em mais corretagens e imposto de renda.
Mais adiante neste capítulo veremos uma simples estratégia com os aportes mensais que evitam o aumento desnecessário dos custos, adiando o rebalanceamento e evitando o aumento do risco.
Rebalanceamento pelo desvio percentual
O desvio percentual não é uma reavaliação da carteira que ocorre em um período pré-definido. Ela pode ocorrer em 1 semana, após 1 ano ou até mesmo nem ocorrer.
Vamos supor que um investidor tenha escolhido o desvio percentual de 20%. Como sua alocação padrão (inicial) é de 50% em lft e 50% em bova11, ele só irá rebalancear seu portfólio quando os ativos atingirem 40% (limite mínimo) e 60% (limite máximo).
Como você pode perceber, os limites não são simples subtrações e somas em relação a alocação original. O cálculo correto é o seguinte:
- Limite mínimo: 50% × (1 – 0,20) = 40%
- Limite máximo: 50% × (1 + 0,20) = 60%
Esse tipo de multiplicação é mais eficiente do que uma simples subtração ou soma porque um desvio percentual de 20% não faz sentido em uma alocação de 10%. Além disso, retirar 20% de uma alocação de 50% é muito diferente do que tirar 20% de uma alocação de 20%.
Voltando ao exemplo original, suponha que em um período de 3 meses uma grave crise tenha ocorrido e a alocação em lft suba para 65%, assim como a alocação em bova11 caia para 35%.
Logo, como estas alocações estão abaixo da mínima permitida de 40% e acima da máxima permitida de 60%, é necessário realizar um rebalanceamento da carteira, retornando a alocação original de 50% em lft e 50% em bova11.
E assim o investidor prossegue, até que o limite abaixo de 40% e acima de 60% seja atingido novamente.
Vantagens do método:
- Captura melhor as variações do mercado
Como esse método não está ligado ao fator temporal, mas sim ao desvio percentual dos ativos da carteira, definindo um limite mínimo e máximo para cada um, a estratégia irá capturar de maneira mais eficiente as mudanças do mercado, mesmo que sejam rápidas e curtas.
- Custos
Geralmente, essa estratégia do desvio percentual incide em menores custos do que a estratégia do calendário. O menor custo dependerá do desvio que você utilizar para disparar o rebalanceamento. Porém, utilizando um desvio de 20% aliado ao método dos aportes mínimos você evitará ter de rebalancear sua carteira frequentemente.
Desvantagens do método:
- Maior monitoramento do mercado
Você já deve ter percebido neste ponto do eBook que tudo no mercado e na vida possui um trade-off, ou seja, uma relação de custo × benefício.
Neste caso, o outro lado da moeda desta estratégia é que você precisará acompanhar mais de perto as variações do mercado para saber se a alocação de algum ativo de sua carteira ultrapassou a barreira mínima ou máxima pré-definida.
Portanto, na próxima vez que você presenciar uma crise ou euforia, lembre-se dos benefícios que o rebalanceamento pode trazer a você, seno o principal deles vender na alta e comprar na baixa.
Esse é um artigo adaptado do capítulo 6 do eBook Alocação de Ativos. Você pode conhecer melhor esse material aqui.