Carteira de Investimentos: Estratégias e Resultados [Jul/2011]

carteira-investimentos-2011

A primeira atualização das carteiras de investimentos está no ar! 🙂

No artigo sobre estratégias de investimentos compartilhamos uma grande ideia.

Criar um acompanhamento mensal das carteiras de investimentos enviadas pelos leitores para acompanhar na prática como funciona a estratégia de alocação de ativos.

Agradeço a todos pelos excelentes comentários neste artigo e pelo envio de suas alocações.

Foram 15 tipos de carteiras diferentes, que mesclam perfis mais conservadores e mais agressivos.

Vamos conhecê-las?

Carteira de Investimentos: Apresentação das Carteiras

Carteira-de-Investimentos-Classes-de-Ativos

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Na imagem acima temos a alocação de cada carteira divida através das 5 classes de investimentos:

1. Conta-Corrente (CC)

2. Renda-Fixa (RF)

3. Fundos Imobiliários (FII)

4. Câmbio

5. Ações (Bolsa)

É possível perceber algumas carteiras conservadoras como a “BF” e a “MK”, com mais de 60% em Renda-Fixa, e carteiras agressivas como a “EFET” e “AJ” com mais de 60% em Ações.

Nota: Abreviei os nomes das carteiras enviadas para preservar a privacidade dos investidores.

Adicionei uma nova carteira de investimentos com o nome “média” que, como o próprio nome diz, é uma média de todas as alocações de ativos.

Ela possui a seguinte alocação:

1. [1,14%] Conta-Corrente (CC)

2. [42,86%] Renda-Fixa (RF)

3. [14,43%] Fundos Imobiliários (FII)

4. [6,57%] Câmbio

5. [35,00%] Ações (Bolsa)

Uma ótima alocação de ativos na minha humilde opinião.

Além das classes de investimentos separei os 10 ativos com as maiores alocações de cada carteira.

Carteira de Investimentos: 10 Maiores Alocações das Carteiras

Carteira-de-Investimentos-10-Maiores Ativos

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Neste gráfico podemos ver o quanto cada carteira está concentrada em um único ativo.

Tanto a carteira “BF” como a “MK” possuem uma alocação maior do que 40% na LFT 2015.

Uma ótima opção para momentos de crise, já que o título segue a Selic e, portanto, não apresenta possibilidades de retornos negativos, como os outros títulos públicos.

A carteira “média” nos mostra que o ativo mais cotado pelos investidores foi (para minha surpresa) a LFT 2015.

É possível notar também que a alocação em LFT 2015 foi 2x maior do que em LTN 2015 e NTN-BP 2015.

Outra supresa também foi a maior preferência por PIBB11 ao invés de BOVA11.

No quesito Large Caps (PIBB11 e BOVA11) x Smal Caps (SMAL11) a preferência foi 2x maior em large caps (~26%) do que small caps (~13%).

Esta relação nos mostra uma postura mais defensiva, já que large caps tendem a apresentar menor retorno e risco do que small caps.

Carteira de Investimentos: Yield dos Fundos Imobiliários

Outro dado interessante é notar a preferência pelos fundos imobiliários.

Carteira-de-Investimentos-Alocação-FII

O fundo BRCR11B só foi escolhido por apenas 2 investidores, com uma alocação média de 0,16%.

O motivo? Provavelmente seu yield atual, de 0,47%.

Embora não seja tão clara é possível perceber uma correlação entre a alocação média nos fundos e o yield atual destes fundos.

Principalmente nos fundos com menor alocação e seu yield mensal.

Após analisar a alocação das carteiras de investimentos precisamos saber como cada ativo presente nas carteiras desempenhou em julho.

Carteira de Investimentos: Rentabilidade dos Ativos no Mês

Carteira-de-Investimentos-Rentabilidade-Ativos


O gráfico acima traz 3 importantes análises:

1. Retorno dos Ativos: Os ativos estão organizados através do ranking de seus retornos no mês.

2. Cada cor ao lado dos ativos representa uma classe de ativos. Veja a legenda no fundo do gráfico.

3. Os retornos foram divididos entre “positivos” (em azul) e “negativos” (em vermelho).

Analisando cada classe de investimento:

Renda-Fixa

Os títulos públicos apresentaram um retorno disperso.

Títulos indexados a Selic tiveram um retorno de 0,97%.

Prefixados, através da LTN 2015, obtiveram um retorno negativo de -0,04%.

O ligeiro aumento da taxa de juros futura ocasionou na queda do preço do título.

Indexados a Inflação apresentaram retornos diferentes de acordo com a duração do título.

Quando maior a duração do título, vide a NTN-B Principal 2035, menor foi o rendimento do título.

Dependendo da alocação nos títulos públicos, o retorno na Renda-Fixa pode ter sido uma proteção em relação à queda na Bolsa.

Saber calcular o retorno líquido dos títulos públicos pode lhe ajudar na tarefa de descobrir qual títulos está mais atrativo no momento.

Fundos Imobiliários

Percebe-se que alguns fundos imobiliários tiveram um excelente desempenho neste mês.

O ativo mais rentável foi o Hotel Maxinvest (HTMX11B), com um retorno de 11,42%.

Estes números revelam a importância de diversificar sua carteira de investimentos com fundos imobiliários.

Mesmo em períodos de crise, eles conseguiram apresentar bons resultados, já que sua correlação não é muito forte com a Bolsa.

Entretanto, você pode notar também que 5 (dos 15) fundos imobiliários apresentaram resultados negativos no mês.

Dica: Não basta apenas investir em fundos imobiliários. É preciso diversificar entre vários fundos. Como regra de bolso, busco ter no mínimo 5 fundos.

Lembre-se do benefício entre diversificar dentro de uma própria classe, conforme ressaltei no artigo sobre estratégias de investimentos.

Câmbio

O Ouro disparou 9,32% neste mês, sendo um ótimo ativo de proteção para a queda na Bolsa.

Já o Dólar e o Euro não tiveram a mesma realidade, apresentando retornos negativos.

Nota: Embora no longo prazo o Dólar e Euro tenham uma forte correlação com a Bolsa, no curto prazo eles podem apresentar uma correlação positiva, prejudicando ainda mais uma carteira de investimento.

Correlação de Ativos é uma força dinâmica e não estática.

A média das carteiras respondeu bem em relação ao Câmbio, já que a maioria optou por uma alocação mais concentrada em Ouro do que no próprio dólar e euro.

No ano passado escrevi um artigo sobre uma possível bolha no Ouro.

Independente do preço estar próximo aos R$ 90, preço quando escrevi o artigo, o Ouro apresenta ser um ótimo ativo com a função de duplo hedge: da Bolsa e dos papéis-moeda, como o Dólar e Euro.

Bolsa

Com retornos abaixo de -5%, a maioria das alocações sofreu com a queda na Bolsa, já que a alocação média das carteiras está em 35%.

Aproveito esta queda na Bolsa para explicar um importante conceito nos investimentos.

Trata-se do modelo de Fama & French: Three-Factor Model.

Modelo Fama & French: Three-Factor Model

Este é um modelo utilizado para estimar retorno e risco entre investimentos em ações.

Os três fatores do modelo são:

1. Valor de Mercado (size risk)

2. Valor (value risk)

3. Risco de Mercado [Beta] (market risk)

A imagem abaixo aborda os dois fatores (1. size risk | 2. value risk).

Carteira-de-Investimentos-3-Factor-Model

1. Size Risk (Large Cap x Small Cap): Diferença entre o Valor de Mercado de duas ações ou índices. Quanto menor o valor de mercado (small cap) mais arriscado tende a ser o investimento e, consequentemente, maior o retorno esperado.

Utiliza-se a denominação “SMB” (Small Minus Big) para enfatizar o prêmio de risco em ativos com menor valor de mercado.

2. Value Risk (Value x Growth): O modelo basicamente classifica ações de valor (value) como ações de baixo P/VP (preço/valor patrimonial). Ações de crescimento (growth) são ações com alto P/VP.

Nesta teoria, quanto mais valor (menor P/VP) tiver um ativo, maior será seu risco e retorno.

3. Market Risk (Beta): Não é possível observar no gráfico este terceiro fator, mas ele considera um beta maior como sendo mais arriscado e com maior retorno esperado.

A praticidade deste modelo é que podemos categorizar os 3 ETFs disponíveis nas carteiras de investimentos de acordo com seu retorno e risco.

1. PIBB11: Segue o IBr-X 50. Ou seja, as 50 ações mais negocidas do Ibovespa, que tendem a ser as de maior valor de mercado.

Logo, o índice tem a maior concentração de valor de mercado dentre os três (size risk) e também apresenta as ações com maior P/VP (growth).

Portanto, espera-se um menor risco e retorno do PIBB11 em relação ao BOVA11 e SMA11.

2. BOVA11: Segue o Ibovespa.

Tem um size risk entre o PIBB11 e o SMAL11, assim como a relação P/VP.

Portanto, espera-se um risco e retorno entre o PIBB11 e o SMAL11.

3. SMAL11: Segue o índice SMLL, das small caps.

Suas ações possuem um baixo valor de mercado (size risk) e um baixo P/VP (value).

Portanto, espera-se um maior risco e retorno do SMAL11 em comparação com o BOVA11 e SMAL11.

Neste mês os retornos dos 3 índices foram:

PIBB11: -5,15%

BOVA11: -5,75%

SMAL11: -6,39%

Embora estes retornos sejam analisados no curto prazo, nota-se uma similaridade com os dados históricos, comprovando a relação entre o risco e retornos entre os 3 índices.

O modelo de 3 fatores de Fama & French é um excelente meio para você observar a relação de retorno e risco de suas ações/índices de ações.

Extremamente útil para uma definição de alocação de ativos que pode ser mais orientada para diferentes tipos de risco.

Veja como calcular o risco de um investimento.

Após analisar os retornos individuais de cada ativos podemos prosseguir para o retorno das carteiras de investimentos.


Carteira de Investimentos: Rentabilidade das Carteiras

Carteira-de-Investimentos-Rentabilidade-Investidores

Sabendo a alocação de cada carteira de investimento e os retornos mensais dos ativos que a compõem podemos medir suaa rentabilidade mensal.

Apenas duas carteiras (“MK” e “BF”) obtiveram desempenho positivo no mês, de 0,75% e 0,64% respectivamente.

Analisaremos os motivos logo logo..

A média das carteiras obteve um retorno de -1,38%.

Um resultado satisfatório para um mês em que a Bolsa caiu -5,75%.

Carteira de Investimentos: Rentabilidade das Carteiras

Carteira-de-Investimentos-Rentabilidade-Investidores-Ativos

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O gráfico acima mostra o retorno de cada carteira em relação ao CDI, à média e ao Ibovespa.

A maioria das carteiras teve um desempenho entre -2% e 0%.

Com o tempo, este gráfico trará dados mais interessantes para analisarmos, por exemplo, a relação entre retorno e risco.

Conforme ressaltei anteriormente, apenas duas carteiras obtiveram retorno positivo.

Vamos analisar os motivos pelo bom desempenho no mês?

Carteira de Investimentos: Rentabilidade das Carteiras

Carteira-de-Investimentos-Alocação-Rentabilidade

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No gráfico acima temos a alocação das carteiras. Abaixo, suas rentabilidades, divididas por classes de investimentos.

Note a alocação em Ações das carteiras “MK” e “BF”. 8% e 17% respectivamente.

Logo, mesmo uma queda na Bolsa de -5,75% torna-se fácil de diversificar.

Tomaremos como exemplo a carteira “MK”:

Carteira de Investimentos: Gerenciamento de Risco

A alocação da carteira “MK” em ações é de 8% (5% em PIBB11 e 3% em SMAL11) e a rentabilidade nesta classe foi de -5,62%.

Portanto, a influência das ações no resultado final foi de apenas -0,45% (8% * -5,62%).

Logo, seria necessário que os 92% restantes da alocação produzissem um resultado de 0,45% para proteger totalmente a queda na Bolsa.

Se  estes 92% estivessem alocados na poupança, que rendeu 0,61% por exemplo, o resultado seria de 0,56% (92% * 0,61%).

Logo, o resultado total da carteira seria de 0,11% [0,56% + (-0,45%)].

No caso desta carteira, os 92% restantes estavam alocados em Renda-Fixa (67%), Fundos Imobiliários (20%) e Câmbio (5%).

Juntos, estes investimentos proporcionaram uma rentabilidade de 1,30%.

Somada com a perda em Ações, o resultado final da carteira foi de 0,75% [1,30% + (-0,45%)].

Isso é gerenciamento de risco! 🙂

Entretanto, vale lembrar que, ao invés da rentabilidade de -5,62% em ações tivéssemos +5,62%, a carteira teria um ganho de “apenas” 1,65%.

Ou seja, ao alocar sua carteira tenha como foco o gerenciamento de risco, principalmente nos momentos de alta volatilidade.

Porém, lembre-se que quanto menor o risco, menor será o retorno esperado.

Equilibrar a relação entre risco e retorno é uma questão que é estudada há tempos.

Diversos avanços foram alcançados neste caminho, mas a incerteza sempre existirá no mercados.

A solução continuará sendo o investimento que lhe trará o melhor retorno no longo prazo (garanto!): O conhecimento!

Leia bons livros de investimentos, blogs sobre investimentos, ignore charlatões do mercado e siga boas dicas de investimentos.

Conclusão

Em momentos de alta volatilidade a alocação de ativos se faz mais necessária do que nunca para você ter maior controle sobre seus investimentos.

You can’t direct the wind, but you can adjust your sails.

Acompanhe esta série sobre carteira de investimentos e observe na prática como diversas carteiras se comportam de maneira diferente ao longo do tempo.

(crédito das imagens: shutterstock.com)

Sobre o autor

Henrique é especialista em alocação de ativos, eleito um dos 5 melhores educadores financeiros do Brasil em 2012/2013. Continue Lendo aqui!

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