Chegamos ao último artigo da comparação entre dois tipos de portfólio: (a) Selic + Ibovespa (correlação neutra) e (b) Dólar + Ibovespa (correlação negativa).
Vimos nos artigos anteriores [(parte I) e (parte II)] que não devemos escolher entre um portfólio ou outro apenas através da correlação que eles apresentam.
Observamos que, mesmo o portfólio composto por Selic e Ibovespa tendo uma correlação neutra (zero), ele foi capaz de performar melhor do que o portfólio composto por Dólar e Ibovespa, além de oferecer um risco menor, para a nossa surpresa.
Neste último artigo iremos focar nos mesmos portfólios, porém, através de períodos de análise diferentes.
O período analisado será de janeiro de 2008 até setembro de 2009. Vamos analisar como os dois portfólios se comportaram neste novo período.
- Portfólio 1: 50% Selic / 50% Ibovespa
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A imagem acima nos mostra a evolução de $1 ao longo de todo o período. O portfólio é o mesmo nas três ocasiões.
A única diferença é o uso (ou não) do rebalanceamento da carteira. Novamente, podemos tirar a conlusão de que rebalancear a carteira (seja através do desvio de 20% ou de 10%) aumentou o retorno total do portfólio.
- Portfólio 2: 50% Dólar / 50% Ibovespa
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Assim como no portfólio 1 (Selic + Ibovespa) podemos inferir que rebalancear este portfólio composto de 50% Dólar e 50% Ibovespa aumentou o retorno, embora também tenha aumentado o risco do portfólio.
Visando tirar uma melhor conclusão entre estes dois portfólios necessitamos avaliar o gráfico envolvendo os dois portfólios e uma tabela comparando as diferenças de cada um.
- Evolução de $1 do Portfólio 1 (50% Selic / 50% Ibovespa) e Portfólio 2 (50% Dólar / 50% Ibovespa)
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No gráfico acima podemos perceber que usei o desvio percentual de 20% para rebalancear os diferentes portfólios.
Neste período (2008-2009), embora o portfólio 1 (Selic + Ibovespa) tenha sido melhor do que o portfólio 2 (Dólar + Ibovespa), esta constatação não é tão obvia, pois tivemos um período (no agravamento da crise) em que o portfólio 2 performou melhor do que o 1.
Alguns fatos a se obervar:
(a) Neste período (janeiro de 2008 até setembro de 2009), a correlação negativa entre o Dólar e o Ibovespa foi de -0,74.
O mais surpreendente é ver que a correlação antes nula entre Selic e Ibovespa se tornou negativa, ficando em -0,59.
Este fato ocorreu devido ao aumento dos juros básicos (até os 13,75%) no auge da crise e no corte da taxa de juros (até os atuais 8,75%) após o fundo no mercado acionário.
(b) Analisando a média simples anual do retorno e o desvio-padrão (volatilidade) neste período temos respectivamente:
Selic: 10,88% de retorno e 0,50% de volatilidade
Dólar: 2,82% de retorno e 33,95% de volatilidade
- Vamos à tabela e as conclusões finais:
Na tabela acima podemos ver melhor a diferença entre os portfólios sob diversas perspectivas.
Conclusões:
(a) Rebalancear o portfólio sempre diminui o risco? A resposta é clara: NÃO. Entretanto, devemos atentar que o período analisado é pequeno (quase dois anos).
Logo, tivemos a ocorrência de um fenômeno conhecido como “Feed the Bear“. “Alimentar o urso” ocorre quando um ativo de risco cai bastante em relação à outro ativo, necessitando uma readequação da carteira, através da venda de ativos mais seguros (safe heaven) para comprar ativos de risco.
O fenômeno toma sua forma quando, após o rebalanceamento, o ativo de risco continua caindo, fazendo com que o risco e as perdas da carteira aumentem ainda mais do que anteriormente, já que estamos direcionando cada vez mais capital para o ativo de maior risco.
Podemos pensar que no curto prazo o mercado tende a exagerar em suas movimentações, criando distorções que poderão ser revertidas em um prazo maior, através do retorno à média (mean regression).
O rebalanceamento é um ótimo meio de se reduzir o risco da carteira no longo prazo, embora existam momentos em que ocorrem o efeito “Feed the Bear“.
(b) Nos artigos anteriores vimos que a diferença entre o rebalanceamento de 10% e o de 20% proporcionava pequenas diferenças, favorecendo ligeiramente o adiamento da realocação entre os ativos.
Neste caso, podemos observar claramente que retardar o rebalanceamento (usando o desvio de 20% ao invés de 10%) nos proporcionou retornos bem maiores (3,57% a mais no portfólio com Selic e 4,95% a mais no portfólio com Dólar).
Além disso, ainda contamos com uma redução de risco em ambos os portfólios (0,54% a menos no portfólio com Selic e 0,71% a menos no portfólio com Dólar).
(c) Embora no período analisado o risco tenha sido menor nos portfólios sem rebalanceamentos, o retornos destes foram pífios se comparados com um rebalanceamento através do desvio de 20%.
Em mercados com uma alta volatilidade a preferência por rebalancear o portfólio (principalmente através do desvio de 20% em relação ao de 10%) proporciona ganhos ainda maiores do que em comparação com um período de baixa volatilidade.
(d) O artigo não propõe identificar qual a melhor alocação entre os ativos mencionados.
O intuito é mostrar a eficiência do rebalanceamento, principalmente no longo prazo, já que os ativos tendem a regredir à média, ao invés de seguir apenas uma direção (neste artigo, para baixo), ocasionando o efeito “Feed the Bear”.
Além disso, usar desvios maiores no rebalanceamento tendem a proporcionar maiores ganhos, menores riscos e menores custos, permitindo que o investidor se aproxime mais rapidamente de suas metas.
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