Alocação de Ativos e Stop, faz sentido?

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Quem já investiu através da Análise Técnica conhece bem o termo “stop“.

Stop é uma técnica em que o investidor determina um valor de saída para sua operação.

Exemplo:

Ele comprou um ativo a R$ 10 e coloca um stop em R$ 9.

Nesse caso, temos o stop loss, ou seja, o valor que ele finalizará sua operação com a perda definida de R$ 1 por ação.

Caso o ativo alcance os R$ 9, ele venderá automaticamente esse ativo, sendo “stopado” conforme o linguajar do pessoal de Análise Técnica.

Trata-se de uma margem de segurança para evitar perdas maiores. No caso, o investidor definiu como 10% sua perda máxima.

Geralmente, quem utiliza stop o coloca abaixo de um suposto suporte.

No exemplo, suponha que o suporte esteja em R$ 9,10. Logo, o stop loss em R$ 9 faz sentido para esse investidor.

A vasta maioria dos investidores começa operando no mercado através da Análise Técnica e tendo contato direto com a essa estratégia de stop loss (margem de segurança para sair com prejuízo limitado) e stop gain (valor alvo para sair da operação com determinado lucro).

Entretanto, na realidade nem tudo é tão mágico como parece.

Embora eu não utilize, nem comente sobre stop aqui no site, uma pergunta que recebo frequentemente em meu email é:

“Faz sentido utilizar stop em uma estratégia de alocação de ativos?”

Continue lendo esse artigo, pois vou mostrar a você 3 razões para não misturar essas 2 estratégias.

Uma breve história sobre Análise Técnica e o Viés da Confirmação

Quero contar a você rapidamente minha história sobre Análise Técnica e stop.

Antes de conhecer a alocação de ativos, já havia devorado vários materiais sobre Análise Técnica apliquei essa estratégia por volta de 1 ano.

Fiz cursos, comprei diversos livros, passei horas em frente ao computador. Porém, conclui que é muito mais fácil vender a ideia da Análise Técnica do que de fato aplicá-la.

Digo isso porque trata-se de um claro problema do viés de confirmação, ou seja, a grande maioria dos praticantes enxerga somente o que querem/desejam ver.

Segundo o WikipediaViés de confirmação (também chamado de tendência de confirmação) é uma tendência das pessoas preferirem informações que confirmem suas crenças ou hipóteses, independentemente de serem ou não verdadeiras.

Como resultado, as pessoas colhem evidências e trazem informações da memória de forma seletiva, interpretando-as de maneira enviesada (tendenciosa).

Como usuário antigo e heavy user de fóruns, perdi a conta de quantas vezes já idolatraram uma determinada pessoa por “prever” o mercado.

Na verdade, com 1.000 pessoas postando suas previsões, certamente haverá um usuário que acertará algum dia em cheio (bulls eye).

É como milhares de pessoas tentando acertar os 6 números da Mega-Sena. Um desses milhões irá acertar, mas isso não o torna um mestre de apostas, ou um guru que você deva seguir para apostar melhor.

Perdedores são ignorados e vencedores são idolatrados. Essa é a política do mercado. Seja para analistas, fundos de investimentos e foristas anônimos.

Peça 10 analistas técnicos para analisar um gráfico e você terá 10 observações diferentes.

Retrações de Fibonacci, Teoria das Ondas, Indicadores clássicos, Médias Móveis, O-C-O/O-C-O-I, Figuras de Reversão, Candlesticks e até uma mistura com astrologia vão te falar.

Em um mesmo gráfico, você poderá identificar diversos sinais diferentes, mas ficará com apenas aquele que deseja ver. Daí o viés de confirmação.

E muitas vezes o mercado irá contra a sua própria previsão.

Reitero que existem sim ótimos profissionais nessa área, mas a vasta maioria dos investidores que conheci e que praticam Análise Técnica sofrem desse mau que é tentar adivinhar o futuro do mercado através do viés da confirmação.

Como disse, já passei por essa situação. A Análise Técnica dá a (falsa) impressão de que você possui controle sobre o mercado. Você imagina que sabe o que fazer, não importa o caminho que o mercado tomar.

Entretanto, na prática é bem diferente.

Você percebe que por mais sensata que seja sua estratégia, quem realmente ganha com essa estratégia são as corretoras.

Com o tempo, esse tipo de investidor torna-se apenas mais um participante da Teoria do Mais Tolo.

Você pode até tirar um dinheiro no curto prazo, mas tenha em mente que grande parte desses lucros irão parar nas mãos de terceiros. Após os custos, a probabilidade de você perder do mercado é muito grande.

Voltando ao stop

Os problemas do Stop na Análise Técnica

Para qualquer investidor iniciante no mercado, o stop é como se fosse a solução para todos os problemas. A cura para todos os males.

Pergunte como eles estão gerenciando o risco de seus investimentos e eles dirão: “tá tranquilo, estou usando stop…”

Porém, basta alguns meses usando stops e você perceberá que a vida não é tão fácil como aparenta.

Abaixo, selecionei dois grandes problemas do stop.

1. Como definir o percentual adequado para disparar o stop?

É quase tão difícil como saber qual e quando comprar um ativo.

Não existe um número mágico que irá livrar você de não disparar um stop.

Voltando ao exemplo original, vamos imaginar que o ativo está atualmente em R$ 10.

Você analisa o gráfico e supõe que o suporte dele está em R$ 9,10.

O que você faz? Coloca o stop em R$ 9,00.

Na prática, você verá que o ativo irá algumas vezes até R$ 8,98.

Ativará seu stop e, dias depois, voltará para os R$ 10.

Você ficará furioso, dirá que tomou um “violino” e alegará que os “tubarões” fizeram isso somente para pegar seu stop e para comprar o ativo ainda mais barato para vender novamente nos R$ 10.

O fato é que você será muitas vezes “stopado”, perdendo dinheiro na operação e nos custos, perdendo tempo e a paciência por não conseguir definir bem os seus stops.

Portanto, definir o valor adequado para um stop pode ser tão difícil como saber qual ativo comprar e quando comprá-lo.

Veja também os 3 piores erros que um investidor pode cometer nesse link.

2. O Caso Sadia

Ano: 2008

Caso: Sadia

Problema: Prejuízo de R$ 2 Bilhões em um único semestre.

Uma imagem fala mais do que 1.000 palavras.

[crédito: Investidor Agressivo]

Trecho retirado do próprio fórum:

“Reparem no tamanho do GAP que o mercado deixou. O quadrado vermelho marca a zona vazia entre o fechamento do dia 25/09 e a abertura do dia 26/09. Uma variação superior a 25%.

Imaginem que um operador havia comprado este papel a 9,20 e deixado um STOP LOSS, digamos em 8,90 (aceitando perder até 3,26% nesta operação). No dia da catástrofe, seu stop foi pulado e ele só pode encerrar a posição com um fumo acima de 20% lá na casa dos 6 reais.

Muitos operadores deixam STOP’s abaixo de suportes fortes para aumentar a segurança, mas nem isso funcionou, reparem que o GAP rompeu 3 suportes importantes, incluindo até o fundo da crise do Subprime do ano passado.

Tudo isso mostra que esta ferramenta, apesar de ser muito importante, apresenta falhas que podem prejudicar seriamente a gestão de risco de um operador.”

Moral da História: Não acredite em stop loss. Um dia ele irá falhar.

A história completa sobre esse caso você pode ler aqui.

Acredite, eventos como esse não são tão raros e irão acontecer quando você menos espera.

Gerenciar o risco de seus investimentos é o principal fator que o levará ao sucesso.

Saber como proceder em eventos de crise como o ano de 2008 o colocará em um novo patamar de experiência como investidor.

Por esse motivo que adoto e divulgo a estratégia da alocação de ativos.

De todas as estratégias que já pratiquei (Análise Técnica, Análise Fundamentalista, Opções, entre outras) ela foi a única que garantiu meu sono em momentos de crise, por ser naturalmente uma estratégia que tem como objetivo reduzir o máximo de risco possível para um dado nível de retorno.

O stop e a Alocação de Ativos

Após conhecer os perigos do stop, você provavelmente já deve ter se livrado dessa estratégia.

Porém, alguns investidores ainda me procuram para tirar essa dúvida:

“Alocação de Ativos e Stop, faz sentido?”

Se nem o stop faz muito sentido como gerenciamento de risco, imagine uma mistura de 2 filosofias totalmente diferentes.

Deixe-me elaborar melhor essa questão:

Você conhece a Teoria da Regressão à Tendência?

Existe uma influente área na Teoria de Finanças, e da qual sou seguidor, que acredita que os mercados tendem a reverter a uma média em longos prazos.

Sabemos que no curto prazo os mercados podem seguir uma única direção, mesmo que não haja qualquer fundamento para uma rápida subida ou descida.

Este caso ficou conhecido no mercado americano na década de 90 em que o Dow Jones e, principalmente a Nasdaq no final da década, apresentavam retorno anual médio acima de 30%.

Alguns investidores diziam que “agora era diferente” e que a expansão da Internet e o rápido avanço da tecnologia representariam um novo modelo econômico, sendo natural esperar retornos acima de 30% todo ano no mercado de ações.

Eles estavam cegos pelo efeito conhecido como Recency Effect, já que a única ponta do iceberg que viam eram os retornos na década de 90, que foi extremamente favorável para o mercado americano.

O resto é história…

O índice Dow Jones caiu por 3 anos consecutivos (2000-2001-2002), apresentando uma perda de -40%.

O índice Nasdaq, que sintetiza as empresas de tecnologia, foi ainda pior, apresentando uma brutal queda de -80%.

Um dos autores que respeito nesta área é o Neurocientista e Investidor Dr. William Bernstein que sumariza da seguinte forma:

“A teoria de regressão à média indica que períodos de relativa boa performance tendem a ser seguidos por períodos de relativa baixa performance e vice-versa”.

Palavras extremamente simples, mas muito poderosas.

Agora você deve estar imaginando: “o que essa teoria tem haver com stop”?

Stop é uma estratégia de curto prazo, enquanto a teoria da regressão à tendência, sendo um dos importantes conceitos da alocação de ativos, é voltada para o longo prazo.

E o que acontece quando misturamos uma estratégia de longo prazo (alocação de ativos) com uma de curto prazo (Análise Técnica utilizando stops rápidos e curtos)?

Temos bastante ruído e indicações divergentes para mudanças de posições.

Por esse motivo, não se deve misturar uma estratégia com a outra.

Na alocação de ativos você não coloca um stop para vender totalmente um ativo.

A própria alocação desse ativo é quem dirá a você que você deve aumentar sua posição nele.

Note que você aumenta os investimentos “perdedores”, ao contrário do stop que tem como objetivo se livrar deles.

Investindo nos perdedores você se apoia na teoria da regressão à tendência, já que no longo prazo a probabilidade de um investimento que caiu muito subir é mais alta do que um investimento que subiu muito subir ainda mais.

Veja por exemplo o gráfico abaixo utilizado para ilustrar uma das lições exclusivas para leitores do nosso MiniCurso 100% Grátis:

[clique na imagem para ampliá-la]

Ou se quiser mais detalhes sobre essa teoria, leia esse artigo.

Conclusão

Pergunte para qualquer investidor qual é o retorno que ele obteve e a grande maioria saberá responder.

Entretanto, pergunte como ele lida exatamente com o risco de sua carteira e se sabe ao menos medir esse importante indicador de volatilidade.

Raros são os investidores que saberiam dizer como o risco está controlado em sua carteira e o que fariam caso a bolsa caísse 60% como caiu em 2008.

Se você ainda tem dúvidas sobre como gerenciar a volatilidade de seus investimentos recomendo os seguintes artigos:

É preciso pensar diferente.

Escapar do senso comum do mercado e conhecer estratégias inovadoras como a Alocação de Ativos.

O mercado de capitais brasileiro ainda é muito jovem e precisamos de investidores como você, de mente aberta, para trazer um pouco de luz à essa escuridão que desde o início mostra apenas um único caminho para iniciantes no mercado.

Eu já fui um deles, talvez você já tenha sido, mas nunca é tarde para começar a adotar uma nova estratégia, livre de conflitos de interesse e que os resultados dependem exclusivamente de você.

E lembre-se:

Amadores medem o retorno de sua carteira. Profissionais se preocupam em gerenciar o risco de sua carteira.

(crédito das imagens: shutterstock.com)

Sobre o autor

Henrique é especialista em alocação de ativos, eleito um dos 5 melhores educadores financeiros do Brasil em 2012/2013. Continue Lendo aqui!

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