1. Introdução
Olá, pessoal!
Estou de volta com a série sobre Riscos de Investimentos e, como disse anteriormente, vou explicar e exemplificar os riscos nos investimentos em ativos de Renda Fixa.
Para quem não viu ou deseja relembrar, leia a primeira parte da série 12 Tipos de Riscos em Investimentos que Você Precisa Conhecer. Nela, enumeramos os tipos de riscos que podem ser encontrados nos principais ativos financeiros e os relacionamos com o seu próprio grau de aversão ao risco.
Um detalhe importante: as informações que utilizo para os estudos e gráficos a seguir são obtidas a partir de uma excelente planilha, que veio como bônus do eBook Alocação de Ativos. É uma planilha com mais de 30 ativos com dados mensais desde 1994. Clique aqui para saber mais sobre essa planilha.
Sem maiores delongas, vamos ao que interessa!
2. Sobre os Investimentos em Renda Fixa
Imagino que muitos de vocês já conheçam o conteúdo desta seção, pois é deveras básico. Mas creio ser importante citar os conceitos aqui presentes para, além de equilibrar o nível dos leitores, embasar os conceitos de riscos que serão especificados nas próximas seções.
Conceitualmente, um ativo de Renda Fixa é um título emitido pelo governo ou por alguma instituição (privada ou pública), que tem como objetivo levantar recursos para financiar expansões e projetos específicos do emissor.
Em termos de remuneração, os títulos de Renda Fixa são definidos por uma marcante característica: a rentabilidade dos ativos (ou sua forma de cálculo) é determinada no exato momento da aplicação.
Dentro do universo da Renda Fixa, há ainda uma subdivisão em duas categorias de títulos: prefixados e pós-fixados. As duas modalidades são exemplificadas a seguir:
- Prefixada: quando a rentabilidade é determinada no momento do investimento.
Ex.: um título prefixado do Tesouro Direto (LTN ou NTN-F) que pague 11% a.a. - Pós-fixada: quando a rentabilidade está vinculada ao desempenho de algum índice, que pode variar ao longo do tempo.
Ex.: um título de CDB emitido por um banco que tenha rentabilidade de 100% do CDI.
Já nos investimentos em Renda Variável, não se sabe previamente qual será a rentabilidade da aplicação, ou mesmo sua forma de cálculo. Por tal motivo, sua taxa de retorno é variável – ela depende de N fatores desconhecidos na hora do investimento.
É nessa categoria que entram as Ações listadas em bolsa e os Fundos Imobiliários, por exemplo.
Geralmente, uma aplicação em Renda Fixa apresenta um risco menor do que outra em Renda Variável, justamente pelo fato da rentabilidade desta última, ou sua forma de cálculo, ser “imprevisível” no ato do investimento.
Apesar da “previsibilidade” inerente, os investimentos em Renda Fixa ainda apresentam risco, inclusive com a possibilidade de perda financeira, assim como será exemplificado a seguir.
Toda aplicação depende de uma instituição que disponibiliza e distribui os títulos, logo, é necessário realizar um importante trabalho de investigação sobre a credibilidade e a saúde financeira destas instituições e dos próprios títulos que elas comercializam.
A importância de possuir Renda Fixa na carteira
Um dos tópicos mais importantes da Alocação de Ativos fala sobre a diversificação entre classes de ativos, mais especificamente, na alocação em títulos de menor risco.
As principais motivações para manter uma parte da carteira alocada em Renda Fixa são:
- Reduzir o nível de perda financeira (ou o risco geral) da carteira quando ocorre uma queda generalizada no mercado de Renda Variável
- A possibilidade de manter uma reserva financeira para aproveitar as oportunidades (mais especificamente, as quedas generalizadas de curto prazo) da Renda Variável.
Caso seja necessário realizar um resgate de parte da carteira e ela esteja completamente alocada em Renda Variável, seu investimento pode apresentar perdas significantes, dependendo do resultado dos ativos nela contidos.
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3. Ativos de Renda Fixa
3.1. Poupança
Por que a poupança é considerada segura (pelo menos no Brasil)?
Pela sua simplicidade. Ela é prática, é isenta de imposto de renda, é fácil de entender e é o “primeiro passo” para quem quer acumular uma boa quantia a fim de dar passos maiores, ou seja, aprimorar os investimentos.
Risco de Volatilidade
Vamos comparar as rentabilidades e volatilidades (em 12 meses) dos dois modos de poupança: a antiga, válida para aplicações até 03/05/2012, e a nova, para aplicações a partir desta data.
Em ambos os casos, a volatilidade é baixa, não chegando a 0,1%.
Considerando a fórmula anterior – 0,5% a.m. + TR (Taxa Referencial) –, a rentabilidade da poupança se mostrou maior do que com a nova fórmula, descrita abaixo:
- Caso a Selic esteja acima de 8,5% a.a., usa a fórmula antiga: 0,5% a.m. + TR.
- Caso a Selic esteja igual ou abaixo de 8,5% a.a., a rentabilidade será 70% da Selic + TR.
Isso se deve ao fato da Selic estar abaixo do “nível de corte” (8,5% a.a.) durante o período de análise, pois sua rentabilidade nesse intervalo foi calculada como 70% da Selic + TR.
Caso o cenário atual permaneça com a Selic acima do nível do corte, a volatilidade da poupança tende a retornar ao nível da poupança antiga, assim como sua rentabilidade.
Fatores de risco sistêmicos
Como conclusão da seção, vamos entender melhor os riscos sistêmicos atrelados ao investimento na poupança.
O risco da poupança está diretamente associado ao banco que faz a captação desses recursos, pois o investidor, na verdade, está emprestando dinheiro ao banco captador. Caso este quebre o investidor deverá recorrer ao FGC – Fundo Garantidor de Crédito – que restitui o investimento até o limite de R$ 250.000,00 por CPF e por instituição.
Há um risco muito interessante, mas que muitos não consideram: o risco de perda financeira, quando se considera a inflação ao final do investimento. Em determinados períodos, a inflação supera a rentabilidade da poupança, por isso devemos sempre estar atentos a novas oportunidades de investimento, mesmo que ainda em Renda Fixa.
Apesar de improvável no curto prazo, dado o nível inflacionário e o grau de endividamento no país, este risco é possível no longo prazo, caso se confirme a tendência de queda da Selic. Isso apenas ocorrerá se o Brasil se desenvolver, se a política econômica do país melhorar, dentre diversos outros “se”.
Mais especificamente, a cada corte na Selic (considerando valores abaixo de 8,5% a.a.), a rentabilidade da poupança também cairá proporcionalmente.
3.2. CDBs, LCIs e similares
CDBs são títulos representativos de depósitos em um determinado prazo, emitidos por bancos comerciais, de investimento ou de desenvolvimento, para que tais bancos realizem operações de empréstimos e financiamentos (a uma taxa bem maior que a paga para você, é claro).
São normalmente prefixados ou indexados a CDI, IPC-A ou IGP-M, logo, sua volatilidade depende basicamente do indexador ao qual ele está vinculado, caso seja pós-fixado.
As LCIs (e aplicações similares, como LCAs e CRIs) apresentam características muito semelhantes às dos CDBs. Também podem ser prefixados ou indexados a indicadores econômicos e podem ser oferecidos por bancos grandes e médios.
Uma das diferenças é que as LCIs têm como lastro financiamentos imobiliários, “garantidos por hipotecas ou por alienação fiduciária de um bem imóvel e que dão aos seus tomadores direito de crédito por valor nominal, juros e atualização monetária, se for o caso” (mais detalhes aqui). Já as LCAs e CRIs possuem lastros específicos e também relacionados a bens imóveis.
Outra diferença é a isenção de imposto de renda (IR) nas LCIs e similares, que no caso dos CDBs é aplicado pela tabela de alíquotas regressivas. Logo, antes de investir, deve-se comparar a rentabilidade da LCI sem o imposto e do CDB com imposto, de preferência imaginando um período mais longo para menor impacto de IR no CDB.
Há ainda CDBs e LCIs que possuem um público-alvo específico para investimento. Alguns bancos disponibilizam tais títulos apenas para investidores qualificados (quem já possui R$ 300 mil investidos), com investimentos iniciais mais altos, a partir de R$ 50 mil, aproximadamente.
Faixas de Rentabilidade pesquisadas
Os valores acima se referem às porcentagens do CDI para a rentabilidade. Nota-se o aumento da rentabilidade para o investimento em bancos médios, que, apesar de taxas mais atrativas, geralmente apresentam maior risco de Default (no jargão de finanças, declaração de calote da dívida). Maiores detalhes a seguir.
Fatores de risco sistêmicos
Assim como a poupança, o risco das aplicações apresentadas aqui também está diretamente ligado ao banco que emite os títulos. Felizmente, também há a possibilidade de recorrer ao FGC caso ocorra uma quebra do banco.
Um fator importante a ser considerado é a avaliação do rating de crédito do banco, como será explicado logo abaixo, no Estudo de Caso.
Também como a poupança, há a possibilidade da rentabilidade do investimento ficar aquém do efeito corrosivo da inflação. Um exemplo pode ser visto quando comparamos o índice de inflação dos últimos 12 meses com um investimento de 1 ano em um CDB de banco maior, que renda apenas 70% do CDI.
Caso o título seja pós-fixado e esteja atrelado a um indicador financeiro que apresente queda, seu título terá uma rentabilidade final menor do que a esperada na data de aplicação.
Caso o investidor adquira um título que possua vencimento em uma data futura e que possua liquidez apenas no vencimento (ou após N dias), nota-se a presença de risco de liquidez, quando o investidor apenas poderá vender o ativo após esse período estipulado ou se abrir mão de parte da rentabilidade (nem sempre disponível).
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Estudo de caso: risco de crédito da instituição emitente
Ao contrário da poupança, para investimentos em CDBs e LCIs o banco escolhido para aplicação faz a maior diferença. Bancos médios geralmente pagam taxas maiores que as dos grandes bancos, pois sua avidez por obtenção de recursos para empréstimo é maior. Apesar da maior atratividade das taxas, o investimento em bancos médios acarreta em maiores riscos para o investidor, que deve sempre estudar a situação financeira do banco em que investe.
A rentabilidade final de uma aplicação em CDB de banco médio, por exemplo, pode fazer uma grande diferença, quando comparada com um banco maior. Tomemos como exemplo um investimento de R$ 100.000,00 durante 5 anos (19/11/2008 a 19/11/2013) em um título que pague 95% do CDI, em um banco grande. A aplicação renderá 46,51%, valor menor que os 52,7% que renderia em um banco médio que pagasse, digamos, 105% do CDI. Em termos financeiros, seriam menos R$ 7.000,00, aproximadamente. Agora imagine se considerarmos o efeito dos juros compostos por 30 anos?
Logo, torna-se necessário avaliar com cuidado o equilíbrio entre a rentabilidade e o rating (indicador de “saúde financeira”) do banco, valor que é proveniente de algumas agências de qualificação do mercado, como: S&P, Moody’s e Fitch Ratings.
O rating indica a avaliação da agência de risco sobre a possibilidade de a empresa declarar o Default financeiro. O Default ocorre quando os credores declaram que uma instituição financeira é incapaz de honrar com suas dívidas ou que não possui meios para cumprir determinada obrigação legal. É a chamada “declaração de insolvência” do devedor, cujas dívidas não foram (ou serão) pagas nos prazos estabelecidos.
O Caso do Banco BVA
Um caso recente é o do Banco BVA.
Em 2012, o banco oferecia normalmente títulos de Renda Fixa, como CDB, LCI e LCA, além de fundos de investimento, para investidores comuns, como nós, e até mesmo para institucionais. Há relatos de excelentes taxas, chegando a pagar até 100% do CDI para um papel de LCI, que, como falado anteriormente, não tem incidência de IR. O relato é do blog Jovem Investidora (link), participante da conhecida “blogosfera de investidores”.
Apesar da excelente oferta, a investidora fez o correto e começou a investigar sobre o banco. Encontrou notícias sobre declaração de prejuízos no IG Economia (link) e sobre o rebaixamento do rating do banco para o nível Caa1.br pela Moody’s, por atraso de divulgação do balanço, como diz a reportagem da Exame (link).
Estas notícias foram ruins, mas o fato mais grave sobre a saúde financeira do banco era o valor que a instituição mantinha em caixa – “menos que o estabelecido por lei para poder emprestar dinheiro” –, de acordo com a reportagem da Exame (link).
Em setembro de 2012, um levantamento do Banco Central apontava que o BVA era o único banco do mercado com índice de Basileia abaixo de 11%, limite mínimo estabelecido pelo governo. Quanto menor este indicador, mais baixa é a capacidade de uma instituição financeira emprestar dinheiro sem comprometer sua solidez financeira. Na época, o percentual do BVA estava em 9,5%.
Com a conjunção destes fatos, incluindo a incapacidade de recompor seu patrimônio, o Banco Central decretou a intervenção no banco, em 19 de outubro de 2012, como pode ser visto em matérias da Folha (link) e da UOL Economia (link).
Após toda essa sequência de acontecimentos, houve diversas especulações sobre a aquisição do Banco BVA pelo empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade (também conhecido como Caoa), que efetivou a compra em maio de 2013, conforme sequência de artigos da Época (link).
A conclusão que podemos tirar destes fatos é que devemos sempre pesquisar sobre a situação financeira e acompanhar quaisquer ajustes de rating pelas agências reguladoras. Casos como esse ocorreram também com os bancos Cruzeiro do Sul e Prosper, recentemente.
E claro, sempre devemos ter em mente que “quando a esmola é demais, o santo desconfia”. Apesar de batido, esse ditado é válido em diversas situações!
4. Conclusão
Ufa, quanta informação!
Neste artigo vimos as principais características e os diversos fatores de risco de alguns tipos de investimento em Renda Fixa. Com essas informações, podemos perceber que, mesmo para quem é extremamente conservador, é possível conseguir aplicações melhores e tão seguras quanto a poupança. Portanto, devemos estudar melhor estes ativos para tomar decisões mais inteligentes.
Fechamos então esta segunda parte da série com os 3 tipos de investimento citados: Poupança, CDBs e LCIs. No próximo artigo da série, falaremos mais detalhadamente sobre Tesouro Nacional, Debêntures e Fundos de Renda Fixa.
Gostaria de sugerir novas formas de risco para os ativos citados? Ou novos ativos a estudar?
Fique à vontade para comentar e tirar suas dúvidas em relação ao assunto.
Abraços e bons investimentos!