Qual é o melhor tipo de Hedge: Câmbio ou Renda-Fixa? [Parte 2]

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Na parte 1 dessa série sobre hedge, vimos que a carteira com Renda-Fixa oferece uma proteção melhor do que a carteira com câmbio.

Não apenas analisando a proteção, mas o retorno, índice de sharpe e perda máxima, a carteira de Renda-Fixa foi melhor.

Entretanto, a análise levou em conta apenas carteiras sem rebalanceamento.

Sabemos que rebalancear a alocação de ativos de uma carteira ajuda a melhorar a sua relação retorno x risco.

Portanto, nesse artigo faremos simulações considerando o rebalanceamento.

Continue lendo esse artigo para saber mais sobre:

  • Simulação entre Câmbio e Bolsa (com rebalanceamento)
  • Simulação entre Câmbio e Bolsa (com rebalanceamento)
  • Qual é afinal o melhor hedge para a Bolsa?

Melhor Hedge: Premissas para as simulações

Faremos 2 simulações nesse artigo. São elas:

  1. Câmbio x Bolsa (com rebalanceamento)
  2. Renda-Fixa x Bolsa (com rebalanceamento)

Vamos supor 2 tipos de carteiras:

  1. Composta por 50% Ações e 50% Câmbio
  2. Composta por 50% Ações e 50% Renda-Fixa

Cuja alocação delas será:

  • Câmbio x Bolsa:

Na classe das Ações utilizaremos 25% IBOV e 25% SMLL (índice de small caps).

Na classe de Câmbio utilizaremos 12,5% Dólar, 12,5% Euro e 25% Ouro.

  • Renda-Fixa x Bolsa:

Na classe das Ações utilizaremos 25% IBOV e 25% SMLL.

Na classe da Renda-Fixa utilizaremos 50% IMA-S (índice que segue a Taxa Selic).

O Rebalanceamento utilizado é de:

20%. Logo, se a alocação de um ativo for de 50%, por exemplo, ele poderá variar entre 40% e 60%.

Lembre-se que os 20% não representam uma soma. 50% * (1,20) = 60% e 50% * (0,80) = 40%.

O período analisado será:

De janeiro de 2006 até maio de 2012, utilizando dados mensais do retorno de cada ativo.

Pronto para os resultados dessas simulações? Vamos lá!

Simulação 1: Câmbio x Bolsa (com rebalanceamento)

Lembrando a alocação:

Na classe das Ações utilizaremos 25% IBOV e 25% SMLL.

Na classe da Câmbio utilizaremos 12,5% Dólar, 12,5% Euro e 25% Ouro.

Na simulação sem rebalanceamento, o retorno total foi de 81,28%.

Nessa simulação com rebalanceamento, o retorno total foi de 96,73%.

Não se preocupe agora com esses números, já que na conclusão desse artigo faremos uma comparação direta entre carteiras sem e com rebalanceamento.

Agora é possível analisar o número de realocações durante todo o período.

Esse número é importante porque um maior número de realocações reflete um maior custo para o investidor, já que terá de vender e comprar mais vezes.

Nesse caso, a carteira de câmbio teve em média 2 realocações por ano, já que o período é em torno de 6 anos e foram realizadas 11 realocações.

A carteira é composta por 5 ativos e ela conseguiu um risco (volatilidade) menor do que todos eles.

Essa é uma vantagem direta de fazer o hedge de investimentos em ações utilizando câmbio.

A redução da volatilidade da carteira é grande.

Esse benefício da diversificação ocorre porque a correlação entre esses ativos é bem baixa.

Confuso sobre o assunto correlação de ativos? Leia esse artigo para entender melhor.

No artigo passado sobre hedge, mostramos que o valor dessa correlação está próximo de -70% entre Ibovespa e Dólar.

O gráfico acima mostra a evolução de R$ 1.000 desde janeiro de 2006 até maio de 2012.

Destacada em azul está a carteira e mais transparentes, os demais ativos que compõem a carteira.

Interessante notar que nessa última queda do Ibovespa a carteira subiu de valor.

A proteção em câmbio foi bastante eficiente e as small caps também não caíram tanto como o Ibovespa.

Esse gráfico mostrando a evolução da alocação da carteira é importante para compararmos simulações com rebalanceamento (como esta) e sem rebalanceamento (do artigo passado).

Note como a mudança da alocação é bem mais dinâmica com a opção de rebalanceamento.

No início de cada mês, o investidor olha para a alocação de sua carteira.

Se qualquer um dos ativos estiver abaixo da sua alocação mínima ou acima de sua alocação máxima, ele deve imediatamente voltar a alocação original definida para a carteira.

Talvez não seja possível notar através do gráfico, mas a carteira foi rebalanceada 4 vezes no período entre setembro/2008 e abril/2009.

Em períodos de crise, a alta volatilidade faz com que o investidor precise tomar decisões rápidas para adequar a alocação de sua carteira.

Apenas para efeito de comparação veja a evolução da alocação sem rebalanceamento:

Perceba que ao não rebalancear, a carteira está livre para variar sua alocação de ativos.

Dólar e Euro, que começaram com 12,5% de alocação terminaram com praticamente 5% de alocação.

O período entre maio de 2008 e abril de 2009 mostra a maior variação da alocação dessa carteira devido à crise internacional.

A alocação em Ouro, por exemplo, praticamente dobrou (de 20% para 37,5%) em menos de 12 meses.

Lembre-se que não consideramos nenhum compra adicional nessa análise. Logo, a alocação da carteira varia apenas através do sobe e desce do mercado.

Para finalizar, adicionei o gráfico que mostra a dispersão de todos os retornos mensais da carteira, do SMLL (índice de small caps) e do Ouro.

Esses dois ativos foram os escolhidos para comparação por serem os mais voláteis.

As linhas pontilhadas em azul e em vermelho mostram o percentil 95 e percentil 5 do retorno mensal da carteira. (o que é percentil?)

O importante nesse gráfico é mostrar como retornos mensais mais próximos (não tão dispersos) ajudam a reduzir o risco dos investimentos.

Quando menor a dispersão do retorno de um ativo ou carteira, menor será a sua volatilidade.

Por esse motivo, a carteira é menos volátil do que todos os 5 ativos que a compõem.

Coloco novamente os resultados da simulação com Câmbio x Bolsa:

Agora precisamos comparar esses números com a simulação entre Renda-Fixa x Bolsa.

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Simulação 2: Renda-Fixa x Bolsa (com rebalanceamento)

Relembrando: Os ativos que compõem essa carteira são:

  1. IMA-S: 50%
  2. IBOV: 25%
  3. SMLL: 25%

Essa é a primeira de todas as simulações com índice de sharpe positivo.

Ou seja, a carteira apresentou um retorno maior do que o CDI, mesmo já descontando a volatilidade da carteira.

O seu retorno é praticamente o dobro do Ibovespa no mesmo período, fato também interessante de se notar.

A Perda Máxima em 1 mês foi de -10,99% e em 12 meses corridos foi de -21,80%.

Além desses indicadores, note que o número de realocações foi apenas 6. Logo, a carteira teve, em média, 1 realocação a cada ano.

É claro perceber que a carteira com Renda-Fixa obteve resultados melhores do que com o Câmbio e iremos analisar todos os detalhes na conclusão desse artigo.

Comparando a relação entre retorno x risco, a carteira foi muito bem.

A carteira teve praticamente o mesmo retorno do índice de small caps (SMLL). Porém, com metade do risco.

Somente o fato de rebalancear periodicamente a carteira ajudou bastante nos resultados dessa carteira.

Uma diversificação eficiente.

A linha azul (carteira) esteve sempre próxima do IMA-S nesse período, distanciando-se apenas em momentos de euforia (perto de maio/2008) e nos momentos de pânico (perto de março/2009).

É possível notar que na grande maioria do período analisado, a carteira esteve acima de o IMA-S.

No longo prazo, é possível que uma carteira com essa alocação tenha uma retorno superior a este índice.

Toda queda ou alta brusca na alocação que você pode visualizar representa uma realocação da carteira.

A mais clara ocorreu no auge da crise em outubro de 2008, quando a alocação em IMA-S já ultrapassava os 60% e a alocação em SMLL estava abaixo de 20%.

Perceba que o ato de rebalancear, olhando apenas para a variação da alocação da carteira, forçou o investidor a vender recursos excedentes em Renda-Fixa no auge da crise para comprar ações com preços descontados.

Esse é um conceito muito importante porque retira todo o emocional de uma compra nesses momentos.

Não é fácil ver o Ibovespa caindo abaixo de -10%, tendo o Circuit Breaker ativado e ter sangue frio para fazer uma mudança geral na carteira com esse pânico todo.

Porém, adotando esse método da alocação de ativos com rebalanceamento, o investidor consegue facilmente identificar em qual período deve modificar sua carteira, sem precisar ler uma única notícia sobre o que está acontecendo.

No gráfico acima podemos observar a distribuição mensal dos retornos dessa carteira e do IMA-S e SMLL.

Vale notar que o retorno do IMA-S é sempre positivo, já que esse índice segue a Taxa Selic.

As estatísticas da carteira novamente:

Conclusão: Qual é o melhor hedge para a Bolsa?

Agora que já analisamos ambas carteiras com rebalanceamento resta-nos comparar os resultados de cada uma.

Algumas perguntas devem ser respondidas antes de avaliarmos qual é o melhor hedge para a Bolsa. São elas:

  1. Qual carteira possui o melhor índice de sharpe?
  2. Em períodos de turbulência qual carteira apresentou a menor perda máxima no mês e em 12 meses?
  3. No longo prazo, qual tipo de carteira possui mais chances de apresentar melhores resultados (retorno, risco e perda máxima)?

Aqui está a comparação entre as duas carteiras com rebalanceamento:

Portanto, a carteira de Renda-Fixa é melhor em (quase) todos os aspectos.

  • Maior retorno
  • Melhor Índice de Sharpe
  • Menor número de realocações (menor custo)
  • Menor Perda Máxima mensal

Ela perde apenas na perda máxima em 12 meses por uma pequena diferença de -0,49% e no risco anual, que é 0,77% maior do que a carteira com câmbio.

Portanto, ao menos para mim, fica claro que no longo prazo uma alocação entre Bolsa e Renda-Fixa é mais eficiente do que Bolsa e Cambio.

Comparação de Carteiras Sem e Com Rebalanceamento

O rebalanceamento foi melhor em todos os quesitos, exceto o número de realocações, o que já era esperado.

Investir em câmbio sem rebalancear é uma péssima ideia, já que para extrair o melhor benefício entre ativos com correlação negativa é rebalancear periodicamente a carteira.

O rebalanceamento também foi bastante eficaz na carteira com Renda-Fixa.

Assim, como na carteira com câmbio, ela só foi inferior no número de realocações, que representa um maior custo.

Conclusão Final

De fato, a a correlação negativa ajuda a reduzir o risco de uma carteira.

Porém, essa redução de risco na grande maioria das vezes está associada a uma redução do retorno também.

Antes de investir em ativos cambiais que são caros devido à baixa procura, veja se realmente essa proteção é adequada para seus investimentos.

O estudo que fizemos mostra que, no longo prazo, é melhor investir em Renda-Fixa do que diversificar através de câmbio.

Esse é um dos motivos que me fizeram escolher pelo nome “Tríade Financeira” para classificar os melhores investimentos para investir.

Diversificando entre Renda-Fixa, Fundos Imobiliários e Ações, o investidor consegue unir o melhor do mercado através de uma ótima relação retorno x risco.

O investimento em câmbio é, portanto, opcional e é adequado para poucos que possuem gastos recorrentes em moeda estrangeira ou aceitam abdicar de boa parte do retorno para ter uma segurança extra em graves crises financeiras.

É preciso lembrar que as simulações realizadas nessa série sobre hedge levou em conta apenas alguns ativos e classes.

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Além do capítulo 5 dedicado apenas as simulações para 3 perfis de investidores diferentes, você também aprenderá em detalhes sobre correlação de ativos, diversificação, risco como volatilidade, técnicas de rebalanceamento, psicologia financeira e muito mais.

Espero que essa série tenha sido útil para você e tenha esclarecido a função do câmbio como investimento para carteiras.

(crédito das imagens: shutterstock.com)

Sobre o autor

Henrique é especialista em alocação de ativos, eleito um dos 5 melhores educadores financeiros do Brasil em 2012/2013. Continue Lendo aqui!

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