Na parte 1 dessa série sobre hedge, vimos que a carteira com Renda-Fixa oferece uma proteção melhor do que a carteira com câmbio.
Não apenas analisando a proteção, mas o retorno, índice de sharpe e perda máxima, a carteira de Renda-Fixa foi melhor.
Entretanto, a análise levou em conta apenas carteiras sem rebalanceamento.
Sabemos que rebalancear a alocação de ativos de uma carteira ajuda a melhorar a sua relação retorno x risco.
Portanto, nesse artigo faremos simulações considerando o rebalanceamento.
Continue lendo esse artigo para saber mais sobre:
- Simulação entre Câmbio e Bolsa (com rebalanceamento)
- Simulação entre Câmbio e Bolsa (com rebalanceamento)
- Qual é afinal o melhor hedge para a Bolsa?
Melhor Hedge: Premissas para as simulações
Faremos 2 simulações nesse artigo. São elas:
- Câmbio x Bolsa (com rebalanceamento)
- Renda-Fixa x Bolsa (com rebalanceamento)
Vamos supor 2 tipos de carteiras:
- Composta por 50% Ações e 50% Câmbio
- Composta por 50% Ações e 50% Renda-Fixa
Cuja alocação delas será:
- Câmbio x Bolsa:
Na classe das Ações utilizaremos 25% IBOV e 25% SMLL (índice de small caps).
Na classe de Câmbio utilizaremos 12,5% Dólar, 12,5% Euro e 25% Ouro.
- Renda-Fixa x Bolsa:
Na classe das Ações utilizaremos 25% IBOV e 25% SMLL.
Na classe da Renda-Fixa utilizaremos 50% IMA-S (índice que segue a Taxa Selic).
O Rebalanceamento utilizado é de:
20%. Logo, se a alocação de um ativo for de 50%, por exemplo, ele poderá variar entre 40% e 60%.
Lembre-se que os 20% não representam uma soma. 50% * (1,20) = 60% e 50% * (0,80) = 40%.
O período analisado será:
De janeiro de 2006 até maio de 2012, utilizando dados mensais do retorno de cada ativo.
Pronto para os resultados dessas simulações? Vamos lá!
Simulação 1: Câmbio x Bolsa (com rebalanceamento)
Lembrando a alocação:
Na classe das Ações utilizaremos 25% IBOV e 25% SMLL.
Na classe da Câmbio utilizaremos 12,5% Dólar, 12,5% Euro e 25% Ouro.
Na simulação sem rebalanceamento, o retorno total foi de 81,28%.
Nessa simulação com rebalanceamento, o retorno total foi de 96,73%.
Não se preocupe agora com esses números, já que na conclusão desse artigo faremos uma comparação direta entre carteiras sem e com rebalanceamento.
Agora é possível analisar o número de realocações durante todo o período.
Esse número é importante porque um maior número de realocações reflete um maior custo para o investidor, já que terá de vender e comprar mais vezes.
Nesse caso, a carteira de câmbio teve em média 2 realocações por ano, já que o período é em torno de 6 anos e foram realizadas 11 realocações.
A carteira é composta por 5 ativos e ela conseguiu um risco (volatilidade) menor do que todos eles.
Essa é uma vantagem direta de fazer o hedge de investimentos em ações utilizando câmbio.
A redução da volatilidade da carteira é grande.
Esse benefício da diversificação ocorre porque a correlação entre esses ativos é bem baixa.
Confuso sobre o assunto correlação de ativos? Leia esse artigo para entender melhor.
No artigo passado sobre hedge, mostramos que o valor dessa correlação está próximo de -70% entre Ibovespa e Dólar.
O gráfico acima mostra a evolução de R$ 1.000 desde janeiro de 2006 até maio de 2012.
Destacada em azul está a carteira e mais transparentes, os demais ativos que compõem a carteira.
Interessante notar que nessa última queda do Ibovespa a carteira subiu de valor.
A proteção em câmbio foi bastante eficiente e as small caps também não caíram tanto como o Ibovespa.
Esse gráfico mostrando a evolução da alocação da carteira é importante para compararmos simulações com rebalanceamento (como esta) e sem rebalanceamento (do artigo passado).
Note como a mudança da alocação é bem mais dinâmica com a opção de rebalanceamento.
No início de cada mês, o investidor olha para a alocação de sua carteira.
Se qualquer um dos ativos estiver abaixo da sua alocação mínima ou acima de sua alocação máxima, ele deve imediatamente voltar a alocação original definida para a carteira.
Talvez não seja possível notar através do gráfico, mas a carteira foi rebalanceada 4 vezes no período entre setembro/2008 e abril/2009.
Em períodos de crise, a alta volatilidade faz com que o investidor precise tomar decisões rápidas para adequar a alocação de sua carteira.
Apenas para efeito de comparação veja a evolução da alocação sem rebalanceamento:
Perceba que ao não rebalancear, a carteira está livre para variar sua alocação de ativos.
Dólar e Euro, que começaram com 12,5% de alocação terminaram com praticamente 5% de alocação.
O período entre maio de 2008 e abril de 2009 mostra a maior variação da alocação dessa carteira devido à crise internacional.
A alocação em Ouro, por exemplo, praticamente dobrou (de 20% para 37,5%) em menos de 12 meses.
Lembre-se que não consideramos nenhum compra adicional nessa análise. Logo, a alocação da carteira varia apenas através do sobe e desce do mercado.
Para finalizar, adicionei o gráfico que mostra a dispersão de todos os retornos mensais da carteira, do SMLL (índice de small caps) e do Ouro.
Esses dois ativos foram os escolhidos para comparação por serem os mais voláteis.
As linhas pontilhadas em azul e em vermelho mostram o percentil 95 e percentil 5 do retorno mensal da carteira. (o que é percentil?)
O importante nesse gráfico é mostrar como retornos mensais mais próximos (não tão dispersos) ajudam a reduzir o risco dos investimentos.
Quando menor a dispersão do retorno de um ativo ou carteira, menor será a sua volatilidade.
Por esse motivo, a carteira é menos volátil do que todos os 5 ativos que a compõem.
Coloco novamente os resultados da simulação com Câmbio x Bolsa:
Agora precisamos comparar esses números com a simulação entre Renda-Fixa x Bolsa.
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Simulação 2: Renda-Fixa x Bolsa (com rebalanceamento)
Relembrando: Os ativos que compõem essa carteira são:
- IMA-S: 50%
- IBOV: 25%
- SMLL: 25%
Essa é a primeira de todas as simulações com índice de sharpe positivo.
Ou seja, a carteira apresentou um retorno maior do que o CDI, mesmo já descontando a volatilidade da carteira.
O seu retorno é praticamente o dobro do Ibovespa no mesmo período, fato também interessante de se notar.
A Perda Máxima em 1 mês foi de -10,99% e em 12 meses corridos foi de -21,80%.
Além desses indicadores, note que o número de realocações foi apenas 6. Logo, a carteira teve, em média, 1 realocação a cada ano.
É claro perceber que a carteira com Renda-Fixa obteve resultados melhores do que com o Câmbio e iremos analisar todos os detalhes na conclusão desse artigo.
Comparando a relação entre retorno x risco, a carteira foi muito bem.
A carteira teve praticamente o mesmo retorno do índice de small caps (SMLL). Porém, com metade do risco.
Somente o fato de rebalancear periodicamente a carteira ajudou bastante nos resultados dessa carteira.
Uma diversificação eficiente.
A linha azul (carteira) esteve sempre próxima do IMA-S nesse período, distanciando-se apenas em momentos de euforia (perto de maio/2008) e nos momentos de pânico (perto de março/2009).
É possível notar que na grande maioria do período analisado, a carteira esteve acima de o IMA-S.
No longo prazo, é possível que uma carteira com essa alocação tenha uma retorno superior a este índice.
Toda queda ou alta brusca na alocação que você pode visualizar representa uma realocação da carteira.
A mais clara ocorreu no auge da crise em outubro de 2008, quando a alocação em IMA-S já ultrapassava os 60% e a alocação em SMLL estava abaixo de 20%.
Perceba que o ato de rebalancear, olhando apenas para a variação da alocação da carteira, forçou o investidor a vender recursos excedentes em Renda-Fixa no auge da crise para comprar ações com preços descontados.
Esse é um conceito muito importante porque retira todo o emocional de uma compra nesses momentos.
Não é fácil ver o Ibovespa caindo abaixo de -10%, tendo o Circuit Breaker ativado e ter sangue frio para fazer uma mudança geral na carteira com esse pânico todo.
Porém, adotando esse método da alocação de ativos com rebalanceamento, o investidor consegue facilmente identificar em qual período deve modificar sua carteira, sem precisar ler uma única notícia sobre o que está acontecendo.
No gráfico acima podemos observar a distribuição mensal dos retornos dessa carteira e do IMA-S e SMLL.
Vale notar que o retorno do IMA-S é sempre positivo, já que esse índice segue a Taxa Selic.
As estatísticas da carteira novamente:
Conclusão: Qual é o melhor hedge para a Bolsa?
Agora que já analisamos ambas carteiras com rebalanceamento resta-nos comparar os resultados de cada uma.
Algumas perguntas devem ser respondidas antes de avaliarmos qual é o melhor hedge para a Bolsa. São elas:
- Qual carteira possui o melhor índice de sharpe?
- Em períodos de turbulência qual carteira apresentou a menor perda máxima no mês e em 12 meses?
- No longo prazo, qual tipo de carteira possui mais chances de apresentar melhores resultados (retorno, risco e perda máxima)?
Aqui está a comparação entre as duas carteiras com rebalanceamento:
Portanto, a carteira de Renda-Fixa é melhor em (quase) todos os aspectos.
- Maior retorno
- Melhor Índice de Sharpe
- Menor número de realocações (menor custo)
- Menor Perda Máxima mensal
Ela perde apenas na perda máxima em 12 meses por uma pequena diferença de -0,49% e no risco anual, que é 0,77% maior do que a carteira com câmbio.
Portanto, ao menos para mim, fica claro que no longo prazo uma alocação entre Bolsa e Renda-Fixa é mais eficiente do que Bolsa e Cambio.
Comparação de Carteiras Sem e Com Rebalanceamento
O rebalanceamento foi melhor em todos os quesitos, exceto o número de realocações, o que já era esperado.
Investir em câmbio sem rebalancear é uma péssima ideia, já que para extrair o melhor benefício entre ativos com correlação negativa é rebalancear periodicamente a carteira.
O rebalanceamento também foi bastante eficaz na carteira com Renda-Fixa.
Assim, como na carteira com câmbio, ela só foi inferior no número de realocações, que representa um maior custo.
Conclusão Final
De fato, a a correlação negativa ajuda a reduzir o risco de uma carteira.
Porém, essa redução de risco na grande maioria das vezes está associada a uma redução do retorno também.
Antes de investir em ativos cambiais que são caros devido à baixa procura, veja se realmente essa proteção é adequada para seus investimentos.
O estudo que fizemos mostra que, no longo prazo, é melhor investir em Renda-Fixa do que diversificar através de câmbio.
Esse é um dos motivos que me fizeram escolher pelo nome “Tríade Financeira” para classificar os melhores investimentos para investir.
Diversificando entre Renda-Fixa, Fundos Imobiliários e Ações, o investidor consegue unir o melhor do mercado através de uma ótima relação retorno x risco.
O investimento em câmbio é, portanto, opcional e é adequado para poucos que possuem gastos recorrentes em moeda estrangeira ou aceitam abdicar de boa parte do retorno para ter uma segurança extra em graves crises financeiras.
É preciso lembrar que as simulações realizadas nessa série sobre hedge levou em conta apenas alguns ativos e classes.
Para uma simulação completa com mais de 10 ativos e as 4 classes de investimentos convido você a conhecer o eBook Alocação de Ativos.
Além do capítulo 5 dedicado apenas as simulações para 3 perfis de investidores diferentes, você também aprenderá em detalhes sobre correlação de ativos, diversificação, risco como volatilidade, técnicas de rebalanceamento, psicologia financeira e muito mais.
Espero que essa série tenha sido útil para você e tenha esclarecido a função do câmbio como investimento para carteiras.
(crédito das imagens: shutterstock.com)